Serviço de reabilitação animal cresce no Brasil
Por Arthur Paes Barretto – CRMV-SP 6871
Confira entrevista sobre o tema com o presidente da Anfivet, Dr. Ricardo S. Lopes
Somente a capital paulista possui mais de 60 centros de reabilitação animal. Isso mostra a importância e evidente crescimento da atividade. A primeira gestão oficial teve início em 2006. Em 2018, assume nova diretoria, com a presidência do Dr. Ricardo S. Lopes, que se mantém engajada em promover o crescimento da fisiatria, fisioterapia e reabilitação animal.
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A criação da Anfivet teve papel importante para barrar a entrada de fisioterapeutas humanos no mercado veterinário. Para que os direitos assegurados pela Lei 5.517 de 23 de outubro de 1968, que regulamenta o exercício profissional do médico-veterinário, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) publicou em 2006 resolução específica sobre o exercício da fisioterapia em animais: resolução n. 850, de 5 de dezembro de 2006 (http://portal.cfmv.gov.br/lei/index/id/237) que dispõe sobre a fisioterapia animal e enfatiza que a área pertence à medicina veterinária.
No histórico do desenvolvimento da fisioterapia veterinária é importante destacar obra inovadora de centro universitário na capital paulista, que, em 2002, inaugurou hospital veterinário contemplando instalações próprias para fisioterapia e reabilitação veterinária. Além disso, inseriu a especialidade na grade curricular da graduação do curso de medicina veterinária. Atualmente, considerando que o Brasil possui mais de 350 faculdades de medicina veterinária, é insignificante a quantidade de instituições que incluíram a fisioterapia veterinária na grade curricular. Transformar essa realidade está no foco da Anfivet. “Promovendo a especialidade visamos que cada vez mais seja possível a formação de profissionais que se dediquem ao mestrado e doutorado. Como consequência, teremos mais profissionais capacitados em ensinar e fomentar pesquisas na área da fisioterapia e da reabilitação animal”, destaca Dr. Ricardo Lopes. “A gestão atual contempla diversas atividades com foco na formação e capacitação: 14 webnários em 2020, sendo que 9 deles com palestrantes internacionais, o I Congresso Internacional da Anfivet, a publicação da Revista Brasileira de Fisioterapia Veterinária e o apoio a diversos eventos que também visam o desenvolvimento da especialidade no Brasil”, complementa o Dr. Ricardo Lopes.
“O rápido desenvolvimento tecnológico tem promovido novas técnicas e benefícios para os pacientes em reabilitação. Isso implica que o profissional esteja em constante atualização para promover as melhores soluções terapêuticas. Profissionais que concluíram curso de especialização devem manter o foco na atualização profissional, pois constantemente temos novas tecnologias e novos protocolos terapêuticos sendo criados”, explica o Dr. Ricardo Lopes. Além de promover a capacitação técnica de terapias inovadoras, a Anfivet também auxilia os associados na aquisição de equipamentos através de descontos que fornecedores concedem aos associados. “Alguns equipamentos básicos para o profissional que inicia na especialidade são o laser, o eletro com TENS (neuroestimulação elétrica transcutânea) e FES (estimulação elétrica funcional) e os aparelhos de cinesioterapia”, diz.
Formação e cursos
Antigamente, muitos profissionais buscaram formação fora do Brasil. Porém, atualmente, com a qualidade da oferta interna, isso mudou e o crescimento da especialidade no Brasil é evidente. “Hoje, os cursos oferecidos no Brasil são melhores que muitos cursos encontrados no exterior, mas desejamos favorecer o intercâmbio internacional. Uma forma de alcançar esse objetivo é através da criação de comitiva brasileira para participação do congresso internacional da especialidade promovido pela International Association for Veterinary Rehabilitation and Physical Therapy (IAVRPT)”, destaca Dr. Ricardo Lopes. O congresso é itinerante e acontece a cada dois anos. O próximo ocorrerá no Reino Unido, em Cambridge, em agosto de 2021: http://www.iavrpt2020.org.
Membros da associação
Dr. Ricardo Lopes frisa que a Anfivet é uma associação que reúne tanto profissionais quanto estudantes. Inclusive, a filiação para estudantes tem anuidade reduzida. Atualmente, as tarifas anuais são R$ 250,00 para profissionais e R$ 150,00 para estudantes. É importante destacar que o associado, ao comprar algum equipamento com fornecedor parceiro da Anfivet, é muito provável que o desconto no equipamento concedido ao associado seja maior que a própria taxa de filiação na associação.
Fisiatra ou fisioterapeuta?
As indicações para a fisioterapia veterinária são muitas: pós-operatórios ortopédicos, pacientes geriátricos, enfermidades degenerativas, obesidade, desordens músculo-esqueléticas, entre outras. Apesar de muitas indicações, ainda há muitos clínicos veterinários que deixam de recomendar o fisioterapeuta veterinário. Isso mostra um potencial muito grande para o crescimento da especialidade.
Uma curiosidade importante e cada vez mais ganha destaque é a nomenclatura do profissional especializado em reabilitação animal. Hoje é possível encontrar tanto a denominação fisioterapeuta quanto fisiatra. Qual a diferença? O termo fisiatra veio da medicina humana na qual vemos fisiatras e fisioterapeutas cuidando de pacientes com os mesmos tipos de condições. No entanto, fisiatras são médicos que concluíram o curso de medicina e mais quatro anos de especialização em reabilitação. Já os fisioterapeutas, por sua vez não são médicos. Fazendo a analogia no segmento veterinário, o fisiatra veterinário é o médico-veterinário especializado em fisioterapia e reabilitação animal.
Webnários Anfivet
Para 2020 foram programados pela Anfivet 14 webnários. Tanto os já realizados quanto os que ainda irão acontecer são restritos aos associados da Anfivet.
Confira abaixo os temas dos webnários de 2020:
Kinesiology Taping nas deformidades angulares e flexurais em potros;
Como a fisioterapia pode auxiliar na reabilitação do animal com artrose;
Shock wave na medicina veterinária;
Fisioterapia esportiva equina no ambiente de competição;
Reabilitação em avulsão do plexo braquial;
Como a fisioterapia pode auxiliar no tratamento da meningoencefalite granulomatosa (MEG);
Fisioterapia no tratamento de feridas;
Reabilitação pós-operatória da ruptura do ligamento cruzado cranial (RLCCr);
Controle motor na reabilitação da disfunção da coluna em equinos;
Técnicas avançadas de eletroterapia: diatermia, eletrólise terapêutica, PST…;
DELTA – Protocolo de Reabilitação Dinâmica Therapy4Horses
Reabilitação na displasia de cotovelo;
Os desafios da escolha de um protocolo de sucesso: casos clínicos;
Uso da frampidina na neuromodulação de animais paralisados.
Congressos
•NOR Science
Acontece no Congresso Vet Science na feira SuperPet, em Campinas-SP, com apoio Anfivet, mas sua realização foi adiada por conta da pandemia do novo coronavírus. Possui foco na neurologia, ortopedia e reabilitação. O congresso tem a participação de Renata Diniz, palestrante internacional, co-autora do livro Fisiatria em pequenos animais e fundadora e responsável pela empresa RehabilitaCans- serviço de fisiatria veterinária em Maiorca – Espanha www.rehabilitacans.com. O primeiro dia terá foco em neurologia, o segundo, em ortopedia e o último dia, foco na fisioterapia e reabilitação animal.
•I Congresso Internacional da Anfivet
O I Congresso Internacional da Anfivet aconteceria de 20 a 22 de maio de 2020, em Maceió, AL, evento paralelo ao Congresso Brasileiro da Associação Brasileira de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa) – o 41º CBA Maceió. Contudo, por conta da pandemia do novo coronavírus, o evento foi adiado, mas ainda não há data definida. A atividade pré-congresso com a palestrante internacional Renata Diniz, abordando o paciente geriatra, também será remarcada.
Todos os inscritos no 41º CBA Maceió poderão participar do I Congresso Internacional Anfivet que ocorrerá em programação paralela à grade do CBA. Além disso, os que também estiverem interessados na atividade pré-congresso pagarão valor diferenciado. Confira abaixo os temas programados para o I Congresso Internacional Anfivet:
Biomecânica do exercício terapêutico na reabilitação de cães com ruptura de ligamento cruzado;
Protocolos fisiátricos no tratamento da dor crônica;
Recuperação funcional na displasia coxofemoral sem cirurgia;
Nem tudo é hérnia de disco: tratando os diferenciais diagnósticos da coluna vertebral; Manejo multimodal das osteoartroses: quais são as novidades no mercado europeu?; Como os animais voltam a andar mesmo com secção completa da medula;
Consolidação óssea: como otimizar a osteogênese utilizando os métodos de reabilitação;
Plataforma vibratória e ultrassom no pós-operatório de fraturas;
Displasia de cotovelo: passado, presente e futuro da reabilitação.
Diagnóstico e reabilitação
A seguir, exemplos de tecnologias e produtos que estão cada vez mais presentes entre a vasta gama de recursos disponíveis para os profissionais que se dedicam à reabilitação animal:
Oxigenoterapia hiperbárica
A oxigenoterapia hiperbárica (OTH) teve início no Brasil na década de 80, quando foi criada a Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica e o primeiro serviço de medicina hiperbárica em hospital universitário, no Hospital de Clínicas da UNICAMP, Campinas-SP.
Décadas depois, a tecnologia foi reproduzida para a versão veterinária e passou a ser acessível a pequenos animais. A Dra. Stella Helena Sakata, que prescreve e executa tratamentos com oxigenoterapia hiperbárica explica sobre o procedimento: “o tratamento consiste na inalação do oxigênio medicinal a 100% em uma pressão maior que atmosférica, aumentando a oxigenação de todos os tecidos, órgãos e fluidos corporais (veja o vídeo publicado clicando aqui). Esta pressão permite com que as moléculas penetrem nos tecidos comprometidos 3 a 4 vezes mais do que normalmente difundidas pelos glóbulos vermelhos. Por isso, quando um paciente está na câmara, o aumento da pressão faz com que o plasma sanguíneo e os outros líquidos corpóreos absorvam uma quantidade muito maior de oxigênio aumentando consideravelmente a capacitação deste pelas células, glândulas, cérebro, órgão, tecidos etc.”
Dra. Sakata também destaca que a OTH promove:
• angiogênese;
• aumento da produção dos fatores de crescimento;
• mobilização das células estaminais e plasma rico em plaqueta;
• aumento da vascularização em tecidos isquêmicos reduzindo fibroses;
• estimulação do potencial de ação e amplificação da despolarização nervosa;
• vasoconstrição com redução de edema (ex: edema cerebral);
• reparação tecidual pelo controle da cascata inflamatória reduzindo o estresse oxidativo;
• diminui a peroxidação lipídica permitindo reorganização celular e regeneração;
• redução da dor.
As indicações para a OTH são muitas:
• tratamento de feridas, lesões de pele e queimaduras;
• traumatismo cranioencefálico e medular;
• lesões musculares, artrites, artroses, osteomielites, disco espondilites;
• associação com medicina regenerativa (células-tronco e plasma rico em plaquetas);
• doenças neurológicas degenerativas;
• úlceras de córnea;
• anemias graves;
• sepse;
• enterites;
• envenenamentos e intoxicações;
• alergias;
• otites;
• dermatopatias;
• retalhos ou enxertos.
Hidroterapia
A hidroesteira é um dos equipamentos de maior valor para um centro de reabilitação. Ela é indicada em diversas situações de reabilitação e também para tratamento da obesidade. Muitos tutores pensam que seus animais não conseguirão fazer sessão na hidroesteira. Porém, na prática, até os gatos realizam com sucesso sessões de hidroterapia (Figura 1).
Figura 1 – Paciente felino em hidroesteira. A indicação da terapia foi feita pelo Dr. Ricardo S. Lopes em decorrência de dificuldade de locomoção a partir dos 4 meses de idade. A causa foi uma má formação vertebral, conhecida como espinha bífida, a qual estava lesionando um ramo do nervo isquiático. Através da fisioterapia e principalmente, da hidroterapia, Masha vem melhorando a cada dia
Termografia médica
Os equipamentos de alta resolução para termografia médica tem custo equivalente ao de uma hidroesteira. Porém, modelo desenvolvido para ser acoplado no telefone celular tem custo equivalente ao de um laser. As figuras 2 e 3 foram capturadas com esse modelo para o telefone celular.
Figura 2 – Felino com paralisia repentina de membros pélvicos foi encaminhado para reabilitação. Com o uso da termografia foi possível identificar que os membros pélvicos estavam com as extremidades frias. Inclusive, mesmo com o estímulo de pontos de acupuntura que estão localizados em meridianos que percorrem os membros pélvicos, não havia qualquer alteração no fluxo energético. O sinal clínico sendo bilateral, indicou o diagnóstico para tromboembolismo aórtico distal. Ele ocorre quando um coágulo sanguíneo, geralmente formado no coração do animal, desprende-se e desloca-se pela artéria aorta, indo causar bloqueio no ponto em que a artéria aorta bifurca e estreita-se em direção aos membros posteriores. Na maioria dos casos, o prognóstico é reservado. – Foto: ArthurPaes Barretto /Integrativa Vet Brasil
Figura 3 – Termografia sendo usada para o registro e acompanhamento de cão com inflamação na articulação metacarpofalangeana Foto: Arthur Paes Barreto / Integrativa Vet Brasil
Órteses
As órteses, aparelhos usados para corrigir uma função corporal que não está sendo feita normalmente, são excelente recurso para compor protocolos terapêuticos dos pacientes em reabilitação (Figura 4).

Figura 4 – Paciente com diminuição de propriocepção no membro pélvico direito utilizando órtese para facilitar a locomoção – Foto: Arthur Paes Barretto / Integrativa Vet Brasil
Ricardo Lopes
• Autor do livro Fisiatria em Pequenos Animais.
• Pós-Graduado em Ortopedia Veterinária pela Universidade de São Paulo.- USP.
• Curso da Canine Rehabilitation Certificate Program (CCRP) pela Universidade do Tennessee.
• Coordenador do Curso de formação em Fisiatria Veterinária da Fisio Care Pet.
• Coordenador da Pós-graduação em Fisiatria Veterinária da ANCLIVEPA-SP.
• Fundador e responsável pela Fisio Care Pet e Rede
Pet Fisio.
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