RELATO DE CASO: REABILITAÇÃO PÓS-OPERATÓRIA EM FRATURA DE RÁDIO – USO DE FIXADOR EXTERNO E TERAPIAS COMPLEMENTARES EM NÃO UNIÃO ÓSSEA

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Por: Beatriz Carvalho Silva¹ e Prof. Dr. Milton Kolber²

RESUMO

Este trabalho descreve o tratamento e a reabilitação de um Spitz Alemão com fratura complexa no rádio do membro torácico esquerdo, destacando a importância de uma abordagem integrada para a recuperação. O paciente sofreu uma fratura completa e oblíqua em espiral após uma queda e foi inicialmente tratado com uma placa e parafusos. No entanto, a estabilização excessiva levou a uma não união óssea. A segunda cirurgia utilizou um fixador externo tipo Ilizarov, autoenxerto ósseo da crista ilíaca e sulfato de cálcio para promover a cicatrização óssea. Além disso, foram aplicadas terapias complementares, incluindo magnetoterapia, ondas de choque, fisioterapia, acupuntura e ozonioterapia. Essas intervenções foram cruciais para a regeneração óssea, alívio da dor e recuperação da mobilidade. A combinação cuidadosa de técnicas cirúrgicas e terapias avançadas demonstrou ser eficaz na reabilitação e recuperação do paciente.

Palavras-chave: fratura óssea, fixador externo, autoenxerto, não união óssea

ABSTRACT

This study describes the treatment and rehabilitation of a German Spitz with a complex fracture of the left thoracic radius, highlighting the importance of an integrated approach to recovery. The patient suffered a complete and oblique spiral fracture following a fall and was initially treated with a plate and screws. However, excessive stabilization led to nonunion. A subsequent surgery utilized an Ilizarov external fixator, iliac crest autograft, and calcium sulfate to promote bone healing. Additionally, complementary therapies, including magnetotherapy, shock waves, physiotherapy, acupuncture, and ozone therapy, were employed. These interventions were crucial for bone regeneration, pain relief, and mobility recovery. The careful combination of surgical techniques and advanced therapies proved effective in the patient’s rehabilitation and recovery.

Keywords: bone fracture, external fixator, autograft, nonunion

1.INTRODUÇÃO

Nas raças de pequeno porte, existe um alto risco para o desenvolvimento de complicações associadas às fraturas de rádio e ulna, incluindo união retardada, não-união, deformidades do crescimento, rigidez articular e hiperextensão do carpo, refletindo a complexidade no tratamento dessas fraturas (FOSSUM, 1997)¹. A consolidação de uma fratura é dependente de fatores como estabilidade mecânica, adequado suprimento sanguíneo e estimulação do membro afetado. A ausência de qualquer um desses fatores pode resultar em complicações, sendo a não-união uma das mais frequentes e desafiadoras (GUGENHEIM, 1998)².

A não-união é caracterizada pela falha na consolidação óssea dentro do tempo esperado, podendo ser classificada em não-união hipertrófica ou atrófica. A não-união hipertrófica é marcada por um suprimento sanguíneo vital na extremidade de cada osso e por uma interface colagenosa densa, permitindo a estimulação da formação óssea por meio de técnicas como a distração gradual da não-união (ARONSON, 1997; GUGENHEIM, 1998)²,³. Já a não-união atrófica requer intervenção que vise tanto a estimulação biológica quanto a estabilidade mecânica, pois a compressão e posterior distração das extremidades ósseas podem ser necessárias para promover a osteogênese (SCHWARTSMAN et al., 1990)4.

Em raças pequenas, a não-união é uma complicação comum nas fraturas diafisárias do rádio e ulna distal, especialmente quando tratadas inadequadamente com métodos de coaptação externa. Essas raças apresentam maior incidência de complicações em comparação com cães de grande porte, incluindo osteomielite, migração de implante,

irritação do tecido mole, união defeituosa, união retardada e falta de união (FERRETTI, 1998)5. Devido à dificuldade de consolidação dessas fraturas, o tratamento da não-união requer uma abordagem cuidadosa, frequentemente envolvendo métodos cirúrgicos como fixadores esqueléticos externos lineares e circulares, placas e parafusos, que buscam restabelecer a estabilidade, a vascularidade e a função do osso afetado.

Os princípios cardinais para o tratamento da não-união incluem estabilidade, alinhamento axial, vascularidade e função (SCHWARTSMAN et al., 1990)4. Uma das técnicas frequentemente empregadas para o tratamento da não-união é o uso do fixador de Ilizarov, que permite a aplicação de mobilidade axial cíclica, proporcionando um estímulo à consolidação óssea. Em casos de não-união hipertrófica asséptica rígida, pode-se utilizar a distração monofocal, enquanto na não-união atrófica, a compressão monofocal é indicada para promover a consolidação (ARONSON, 1997; GUGENHEIM, 1998; FERRETTI, 1998)2,3,5. A combinação dessas técnicas visa restaurar a integridade óssea, permitindo o retorno da função e a completa consolidação.

Portanto, o presente trabalho busca avaliar as estratégias terapêuticas disponíveis para o tratamento da não-união óssea em cães de raças pequenas, com foco no uso do método de Ilizarov como uma alternativa eficaz para a promoção da consolidação óssea em casos complexos. Além disso, objetiva-se apresentar as terapias complementares de reabilitação, que podem favorecer o processo de tratamento e recuperação do paciente.

2. BIOMECANICA E FIXAÇÃO DA FRATURA

A biomecânica das fraturas é fundamental para o planejamento do tratamento e a escolha da técnica de fixação.

2.1 FRATURAS COMPLETAS

Estas fraturas envolvem a separação total do osso em dois fragmentos, o que pode resultar em instabilidade significativa (Stavert et al., 2020)6. A biomecânica dessas fraturas exige uma técnica de fixação que possa fornecer suporte adequado para manter os fragmentos alinhados e permitir a cicatrização óssea. A escolha do método deve considerar a estabilidade proporcionada e a capacidade de suportar as forças aplicadas durante o movimento (Slatter, 2003)7.

2.2 FRATURAS OBLÍQUAS

Caracterizadas por uma linha de fratura que atravessa o osso em um ângulo inclinado em relação ao eixo longitudinal criando desafios adicionais para a estabilização devido à sua tendência a deslocar os fragmentos de maneira complexa (Gibson, 2015)8. A orientação da linha de fratura pode influenciar a escolha da técnica de fixação, uma vez que a estabilidade dos fragmentos é crucial para prevenir complicações como a não união (Hedlund, 2018)9.

2.3 TRATAMENTO COM FIXADOR EXTERNO

O uso de fixadores externos oferece uma abordagem eficaz para a estabilização de fraturas complexas, incluindo as completas e oblíquas. Essa técnica envolve a aplicação de pinos ou parafusos inseridos no osso, conectados por barras ou estruturas externas que fornecem suporte biomecânico durante o processo de cicatrização.

2.3.1 Princípios da Fixação

O fixador externo estabiliza a fratura através da aplicação de uma força controlada sobre os fragmentos ósseos. Isso ajuda a manter o alinhamento correto e a promover a união óssea (Pounder, 2006)10. A escolha do tipo de fixador, como o fixador de pinos e barras ou o fixador de anéis, deve ser baseada nas características específicas da fratura e na necessidade de ajuste durante a recuperação (Muir, 2005)11.

O fixador externo proporciona várias vantagens, incluindo a menor invasividade comparada a técnicas internas e a capacidade de ajustar a fixação conforme a evolução do processo de cicatrização (Hulse et al., 2006)12. Além disso, permite um monitoramento contínuo do local da fratura e facilita o tratamento de complicações, se necessário.

A instalação e manutenção de um fixador externo requerem atenção cuidadosa para evitar problemas como infecção e deslocamento dos pinos. A técnica de instalação deve garantir que os pinos sejam posicionados corretamente e que o fixador esteja ajustado para fornecer a estabilidade necessária (Murray, 2019)13. O cuidado pós-operatório é essencial para garantir a cicatrização adequada e a recuperação funcional do membro.

2.3.2 Autoenxerto associada a fixação externa

O autoenxerto ósseo é uma técnica frequentemente utilizada no tratamento de não união óssea, principalmente em fraturas complexas como as do rádio. O autoenxerto da crista ilíaca é uma escolha comum devido a abundância de células osteoprogenitoras, fatores de crescimento e a capacidade osteoindutora e osteocondutora, que são essenciais para promover a osteogênese. Além disso, a crista ilíaca fornece um volume significativo de enxerto e é relativamente acessível para coleta, tornando-se uma opção viável em muitos casos clínicos (Fossum, 2013)¹.

Na estabilização de fraturas de rádio, especialmente na presença de não união óssea, a combinação do autoenxerto ósseo com um suporte mecânico adequado é crucial para fornecer a estabilidade necessária ao local da fratura e para permitir a formação óssea. A fixação com o fixador externo Ilizarov tem se mostrado eficiente nesses casos, uma vez que oferece uma estabilização rígida e ao mesmo tempo permite a micromovimentação controlada, que pode ser benéfica para a osteogênese. A técnica Ilizarov, que utiliza anéis e fios tensionados, permite ajustes pós-operatórios e uma abordagem menos invasiva para a estabilização óssea. Isso é particularmente importante em fraturas de rádio, onde a estabilidade e a vascularização são essenciais para a consolidação óssea adequada (Fossum, 2013)¹.

A associação com sulfato de cálcio no tratamento da não união óssea apresenta vantagens adicionais. O sulfato de cálcio atua como um arcabouço biodegradável, liberando gradualmente íons cálcio no ambiente da fratura, o que pode estimular a formação óssea. Além disso, ele se integra ao enxerto ósseo autólogo da crista ilíaca, promovendo um ambiente propício para a osteogênese e acelerando o processo de consolidação óssea. O uso dessa combinação pode ser especialmente benéfico em casos de não união óssea onde o potencial de cicatrização é comprometido, como em fraturas de rádio com extensa cominuição ou perda óssea (Fossum, 2013)¹.

O autoenxerto e o aloenxerto são duas técnicas distintas de enxertia óssea usadas no tratamento de fraturas e condições de não união óssea. O autoenxerto envolve a coleta de osso do próprio paciente, geralmente de locais como a crista ilíaca, para ser transplantado para a área da fratura. As principais vantagens do autoenxerto são a ausência de risco de rejeição imunológica e o alto potencial osteogênico, uma vez que o

enxerto contém células osteoprogenitoras, fatores de crescimento e matriz óssea viva. Por outro lado, a principal desvantagem é a morbidade associada ao local doador, que pode incluir dor, risco de infecção e complicações cirúrgicas (Drosos et al., 2007)14.

3. REABILITAÇÃO PÓS-OPERATÓRIA

A reabilitação desempenha um papel crucial no processo de cicatrização óssea e na recuperação funcional após o tratamento cirúrgico ou conservador das fraturas. Para fraturas que requerem tratamento cirúrgico, a fisioterapia pós-operatória é essencial para otimizar a recuperação. As intervenções incluem o uso de técnicas como a terapia com ondas de choque, que ajuda na aceleração da cicatrização óssea e na redução da dor. Além disso, a mobilização precoce das articulações e a reabilitação funcional são fundamentais para restaurar a amplitude de movimento e a força. (DINIZ, 2012, p. 123)15.

A utilização de terapias complementares, como a magnetoterapia, que pode ser benéfica na redução da inflamação e na promoção da cicatrização óssea. São apresentados protocolos de reabilitação específicos para diferentes tipos de fraturas, com ênfase na progressão gradual das atividades e no monitoramento contínuo da resposta do animal ao tratamento. A personalização dos protocolos com base nas necessidades individuais do paciente é destacada como um fator chave para o sucesso da reabilitação. (DINIZ, 2012, p. 123)15.

3.1 MAGNETOTERAPIA

A magnetoterapia aplica campos magnéticos que podem ser pulsantes ou contínuos sobre a área afetada. Esses campos magnéticos interagem com os tecidos do corpo através da geração de correntes elétricas induzidas e de mudanças na permeabilidade das membranas celulares. O principal mecanismo de ação é a estimulação de processos bioquímicos e biofísicos que favorecem a reparação e regeneração dos tecidos.

O campo magnético pulsado utiliza pulsos de campo magnético de alta intensidade e baixa frequência que induzem correntes elétricas nas células, promovendo a produção de ATP (adenosina trifosfato), que é crucial para a regeneração celular. Aumenta a atividade metabólica das células e melhora a circulação sanguínea local, o que pode acelerar a reparação tecidual e reduzir edema. É utilizado para tratar lesões agudas e crônicas, como fraturas e lesões musculoesqueléticas, por sua capacidade de estimular a formação de novo tecido ósseo e melhorar a recuperação funcional.

O campo magnético continuo emite um campo magnético constante e uniforme que pode ajudar a aliviar a dor e reduzir a inflamação, promovendo um ambiente mais favorável para a cicatrização. Melhora a circulação local e tem efeitos anti-inflamatórios que contribuem para a diminuição da dor e do desconforto. É frequentemente utilizado para tratar condições crônicas e para promover a consolidação óssea após a redução de fraturas. Ajuda a reduzir a rigidez e a dor nas articulações, favorecendo a recuperação funcional. (DINIZ; DINIZ, 2012, p. 128)15.

Na reabilitação de fraturas, a magnetoterapia desempenha papéis essenciais em diferentes fases do processo de recuperação como reduzir a inflamação e a dor no local da fratura, diminuir a produção de mediadores inflamatórios e acelerar a reabsorção do edema, criando um ambiente mais propício para a cicatrização. (DINIZ; DINIZ, 2012, p. 128)15.

Na fase de consolidação óssea a magnetoterapia estimula a formação e a mineralização do novo tecido ósseo, aumenta a atividade dos osteoblastos, as células responsáveis pela formação óssea. O tratamento com campos magnéticos pode acelerar o processo de calcificação e promover a integração do osso fraturado. (DINIZ; DINIZ, 2012, p. 128)15.

A fase de remodelação óssea tem como objetivo adaptar o osso novo à carga e função normais facilitando a remodelação óssea ao melhorar a qualidade do novo tecido e contribuir para a recuperação da força e da integridade do osso. A magnetoterapia também pode auxiliar na restauração da função muscular e na melhoria da mobilidade das articulações adjacentes. (DINIZ; DINIZ, 2012, p. 128)15.

A magnetoterapia é uma ferramenta terapêutica eficaz na reabilitação de fraturas em pequenos animais. Sua capacidade de estimular a cicatrização óssea, reduzir a inflamação e melhorar a função muscular a torna uma adição valiosa ao arsenal terapêutico dos fisiatras veterinários. A técnica oferece um suporte significativo na recuperação pós-operatória, complementando outras modalidades de tratamento e contribuindo para uma recuperação mais rápida e completa dos pacientes (DINIZ; DINIZ, 2012, p. 128)15.

3.2 TRATAMENTO POR ONDAS DE CHOQUE (TOC)

O tratamento por ondas de choque (TOC) é uma modalidade terapêutica que utiliza ondas acústicas de alta energia para promover a cicatrização e a regeneração de tecidos. Essas ondas são geradas por um dispositivo que aplica pulsos de choque na área afetada, produzindo uma série de efeitos físicos e bioquímicos benéficos para a recuperação. As ondas de choque podem ser unidimensionais (radiais) ou multidimensionais (focais). As ondas radiais possuem uma dispersão mais ampla e são utilizadas para tratar áreas superficiais, enquanto as ondas focais são mais direcionadas e profundas, sendo indicadas para tecidos mais específicos e profundos. Durante o tratamento, o aplicador do dispositivo é posicionado sobre a região a ser tratada, emitindo ondas acústicas que penetram nos tecidos e geram um efeito mecânico direto nas células e estruturas lesionadas. (DINIZ; DINIZ, 2012, p. 133)15.

Os efeitos do TOC no corpo incluem mecanismos mecânicos e bioquímicos. Mecanicamente, as ondas de choque causam microtraumas controlados nos tecidos, estimulando o processo natural de reparação. Esses microtraumas desencadeiam uma resposta inflamatória aguda, promovendo a regeneração tecidual. Bioquimicamente, a aplicação das ondas de choque induz a liberação de fatores de crescimento, como o Fator de Crescimento Endotelial (VEGF) e o Fator de Crescimento Derivado das Plaquetas (PDGF), que são essenciais para a formação de novos vasos sanguíneos e a regeneração dos tecidos. Além disso, o TOC aumenta a produção de colágeno e a atividade das células mesenquimatosas, elementos cruciais na reparação óssea. O tratamento também resulta em um aumento da perfusão sanguínea, promovendo a dilatação dos vasos sanguíneos e aumentando o fluxo sanguíneo local. Isso melhora a entrega de nutrientes e oxigênio à área afetada, acelerando o processo de cicatrização. Outro benefício do TOC é a redução da dor e inflamação, pois a terapia tem efeitos analgésicos que inibem a liberação de mediadores inflamatórios e melhoram a função dos nervos locais. (DINIZ; DINIZ, 2012, p. 133)15.
Na reabilitação pós-operatória de fraturas, o TOC oferece vários benefícios. Um deles é a aceleração da consolidação óssea, uma vez que promove a formação e mineralização do osso novo ao estimular a atividade osteoblástica e a síntese de matriz extracelular. Esse processo é particularmente útil após cirurgias para correção de fraturas, ajudando a acelerar a cicatrização e reduzir o tempo de recuperação. Além disso, o tratamento melhora a mobilidade articular ao aliviar a dor e a inflamação nas articulações próximas à fratura, reduzindo a rigidez articular e aumentando a amplitude de movimento. Essa melhoria facilita a reabilitação funcional do membro afetado e auxilia na recuperação da mobilidade normal. O TOC também favorece a reparação dos tecidos moles ao estimular a regeneração das fibras musculares e tendinosas que podem ter sido danificadas durante a cirurgia. Esse efeito é fundamental para garantir uma recuperação completa, prevenindo complicações como enfraquecimento ou encurtamento dos tecidos moles. Por fim, o tratamento por ondas de choque pode prevenir complicações pós-operatórias, como a formação de tecido cicatricial excessivo e a rigidez articular, promovendo uma recuperação mais suave e eficiente. Esse efeito é vital para garantir que o paciente recupere sua função normal e evite problemas a longo prazo. (DINIZ; DINIZ, 2012, p. 133)15.

O tratamento por ondas de choque é uma técnica terapêutica eficaz e bem estabelecida na reabilitação de fraturas e outras lesões musculoesqueléticas em pequenos animais. Seu mecanismo de ação, que combina efeitos mecânicos e bioquímicos, oferece benefícios significativos na aceleração da cicatrização óssea, na melhoria da mobilidade articular e na recuperação dos tecidos moles. A aplicação desta técnica na fase pós-operatória pode contribuir substancialmente para uma recuperação mais rápida e completa, proporcionando uma solução valiosa para desafios comuns enfrentados durante o processo de reabilitação (DINIZ; DINIZ, 2012, p. 133)15.

3.3 FISIOTERAPIA

A fisioterapia desempenha um papel fundamental no tratamento de fraturas, especialmente nas fraturas de rádio ou nos casos de não união óssea, onde o processo de cicatrização é complexo e requer intervenção para uma recuperação adequada. Dentro do contexto da fisioterapia, a cinesioterapia se destaca como uma abordagem essencial para promover a mobilidade, fortalecer os músculos e acelerar a recuperação funcional do membro afetado. A cinesioterapia envolve uma série de exercícios terapêuticos que têm como objetivo restaurar a amplitude de movimento, melhorar a circulação sanguínea e estimular a regeneração óssea e tecidual. (DINIZ; DINIZ, 2012, p. 408)15.

No caso específico das fraturas de rádio ou fraturas que evoluíram para não união óssea, a cinesioterapia deve ser iniciada de forma precoce, mas com cuidados para não comprometer a estabilidade da fratura. Nos estágios iniciais, quando a fratura ainda está em processo de consolidação, a mobilização passiva é recomendada. Este tipo de mobilização é realizado sem a contração ativa do músculo, permitindo que as articulações sejam movimentadas dentro de uma amplitude segura para evitar a rigidez articular e a atrofia muscular. À medida que a cicatrização avança e é possível garantir uma maior estabilidade da fratura, a cinesioterapia ativa pode ser introduzida. Esta etapa envolve exercícios que exigem a contração muscular ativa do paciente, promovendo a manutenção e o fortalecimento da musculatura ao redor da fratura, o que é crucial para suportar e proteger a estrutura óssea em processo de reparo. (DINIZ; DINIZ, 2012, p. 408)15.

Em fraturas com não união óssea, onde há uma dificuldade intrínseca no processo de cicatrização óssea, a cinesioterapia assume uma importância ainda maior. A movimentação controlada e gradual contribui para o estímulo biomecânico necessário para promover a osteogênese, processo que pode ser dificultado nesses casos. A aplicação da cinesioterapia deve ser personalizada, levando em consideração o estágio de cicatrização, a resposta do paciente e a estabilidade proporcionada por eventuais dispositivos de imobilização, como fixadores externos. Além disso, a integração da cinesioterapia com outras modalidades terapêuticas, como magnetoterapia e tratamento por ondas de choque, pode potencializar os resultados, promovendo uma melhor qualidade na consolidação óssea e na restauração da função do membro. (DINIZ; DINIZ, 2012, p. 408)15.

3.4 ACUPUNTURA

A acupuntura é uma técnica fundamental da medicina tradicional chinesa, que se baseia no conceito de meridianos. Meridianos são canais energéticos que percorrem o corpo, transportando a energia vital, conhecida como “Qi.” A interrupção ou bloqueio do fluxo do Qi pode resultar em dor ou doença. A acupuntura visa restaurar o equilíbrio e o fluxoadequado do Qi, estimulando pontos específicos ao longo desses meridianos. (SCHOEN, 2006)16.

No tratamento de afecções osteomusculares, como fraturas de rádio e casos de não união óssea, a acupuntura é particularmente útil. Os meridianos relacionados à estrutura e à função osteomuscular incluem o meridiano do Rim, que está associado à medula óssea e ao crescimento dos ossos, e o meridiano da Vesícula Biliar, que influencia a flexibilidade e o movimento das articulações. O meridiano da Bexiga também é importante, pois abrange a coluna vertebral e as extremidades, desempenhando um papel significativo no alívio da dor e na mobilidade. (SCHOEN, 2006)16.

Bioquimicamente, a acupuntura promove uma série de respostas benéficas no corpo. A estimulação dos pontos de acupuntura resulta na liberação de neurotransmissores e neuromoduladores, como endorfinas, serotonina e substância P. Essas substâncias atuam no sistema nervoso central, modulando a percepção da dor e induzindo efeitos analgésicos. Além disso, a acupuntura pode estimular a produção de óxido nítrico, que promove a vasodilatação e aumenta a circulação sanguínea na área tratada, facilitando a entrega de nutrientes e oxigênio para os tecidos danificados. Esse aumento na perfusão sanguínea é essencial para acelerar o processo de cicatrização óssea e promover a regeneração dos tecidos moles adjacentes à fratura. (SCHOEN, 2006)16.

A prática da acupuntura também pode influenciar o sistema imunológico, regulando a resposta inflamatória. Em casos de fraturas, a inflamação é uma etapa crucial do processo de cicatrização, mas seu excesso pode ser prejudicial. A acupuntura ajuda a equilibrar a resposta inflamatória, estimulando a produção de citocinas anti-inflamatórias, reduzindo o edema e melhorando o ambiente local para a reparação óssea. Nos casos de não união óssea, onde o processo de cicatrização foi interrompido ou não ocorreu adequadamente, a acupuntura pode ser uma ferramenta complementar para reiniciar e apoiar o processo de reparação (SCHOEN, 2006)16.

3.5 OZÔNIOTERAPIA

A ozonioterapia é uma modalidade terapêutica que utiliza a mistura de oxigênio e ozônio (O2/O3) para promover a cicatrização e reduzir a inflamação. No caso de fraturas ósseas com fixador externo e não união óssea, ela oferece benefícios notáveis. O ozônio é um gás composto por três átomos de oxigênio (O3) e possui propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Quando aplicado terapeuticamente, ele melhora a liberação e a utilização do oxigênio nos tecidos, facilitando o metabolismo celular. Isso é relevante em casos de fraturas com não união óssea, onde a má perfusão sanguínea pode atrasar a consolidação óssea. Além disso, o ozônio reduz a produção de mediadores inflamatórios, como prostaglandinas e citocinas pró-inflamatórias, diminuindo a inflamação local. Em fraturas com fixador externo, a ozonioterapia ajuda a reduzir a resposta inflamatória associada ao trauma cirúrgico e ao próprio processo de estabilização óssea. Também estimula a atividade dos osteoblastos, células responsáveis pela formação óssea, e promove a síntese de fatores de crescimento, acelerando a cicatrização e melhorando a qualidade do calo ósseo, sendo uma abordagem útil em casos de fraturas com dificuldade de consolidação (AMBROSIO; SANTOS, 2017)17.

A aplicação da ozonioterapia em fraturas com fixador externo pode ser feita tanto localmente, na região da fratura, quanto sistemicamente por aplicação intra-retal. A administração local pode ser realizada por meio de injeções subcutâneas ou periarticulares ao redor da área afetada, melhorando a oxigenação e a circulação sanguínea no local da fratura, facilitando a reparação óssea. Além disso, em casos de fixadores externos, a ozonioterapia pode ser usada para tratar complicações como infecções e atraso na cicatrização de feridas. A aplicação tópica de água ozonizada ou óleo ozonizado pode ajudar a desinfectar e promover a cicatrização de tecidos moles ao redor da área de fixação. Nos casos de não união óssea, a ozonioterapia pode ser combinada com outras terapias, como a magnetoterapia e a terapia por ondas de choque, para otimizar a consolidação óssea. Ao melhorar a oxigenação e reduzir a inflamação crônica, a ozonioterapia cria um ambiente mais propício para a recuperação óssea (ZAGHLOUL et al., 2018)18. Os efeitos bioquímicos da ozonioterapia incluem o aumento da atividade antioxidante e a modulação do sistema imunológico. O ozônio induz a produção de enzimas antioxidantes, como a superóxido dismutase (SOD) e a glutationa peroxidase, protegendo os tecidos contra o estresse oxidativo causado pela inflamação e lesão tecidual. Além disso, o ozônio regula a resposta imunológica, aumentando a atividade dos macrófagos e a produção de citocinas anti-inflamatórias. Isso é crucial para reduzir a inflamação crônica em casos de não união óssea e facilitar a reparação tecidual, promovendo a recuperação funcional e estrutural da região afetada (ZAGHLOUL et al., 2018)18.

4. RELATO DE CASO

Paciente canino da raça Spitz Alemão, macho, de 3 anos, sofreu uma fratura no rádio do membro torácico esquerdo após uma queda no dia 8 de fevereiro. A primeira cirurgia foi realizada no mesmo dia, com o diagnóstico radiográfico inicial de uma fratura simples completa (Fig. 1), porém à cirurgia verificou-se tratar de uma fratura completa e oblíqua em espiral. O procedimento de estabilização incluiu a fixação de uma placa com 5 parafusos compressivos onde 1 deles foi colocado na ulna ligando ao rádio, porém com dificuldade, pois nas radiografias seguintes podemos observar 3 túneis ósseos na ulna pelas tentativas de fixação (Fig.2). O segundo ortopedista, posteriormente consultado, considerou que houve um excesso de estabilização, o que impediu o crescimento ósseo, resultando em não união óssea.

Após a primeira cirurgia o paciente foi encaminhado para fisioterapia, acupuntura e ozonioterapia com o objetivo de voltar a apoiar o membro, mas permaneceu com dor e a cada radiografia ainda mostrava ausência de calo ósseo. Diante dessa evolução, os tutores procuraram a opinião de outro ortopedista em junho, que solicitou uma tomografia para melhor avaliação e produção de um molde 3D dos ossos do membro torácico esquerdo para planejamento cirúrgico (Fig. 3). Na nova cirurgia, foram retiradas a placa e os parafusos compressivos, enviando-os para cultura e antibiograma, sendo a osteomielite outra possibilidade para a não união óssea, cujo resultado foi negativo.

Figura 1 – Radiografia do membro torácico esquerdo do dia da queda. Arquivo pessoal
Figura 2 – Radiografia após 9 dias da primeira estabilização da fratura, presença de túneis ósseos na ulna onde o parafuso não fixou. Arquivo pessoal

O ortopedista optou por uma nova abordagem com um fixador externo circular tipo Ilizarov e realizou um autoenxerto retirado da asa ilíaca, transplantando-o para o foco da fratura juntamente com sulfato de cálcio para estimular a cicatrização óssea. Em 25 dejulho, o paciente passou por uma sessão de terapia de ondas de choque (Fig. 4), na qual eu pude acompanhar, para auxiliar a osteogênese, e após um mês o paciente foi liberado para retomar as sessões de fisioterapia com foco em magnetoterapia favorecendo a consolidação óssea e exercícios passivos para estimular a descarga de peso para a pata operada.

Figura 3 – Molde 3D para planejamento cirúrgico realizado a partir da tomografia realizada dia 22/06/24. Arquivo pessoal.
Figura 4 – Paciente em anestesia inalatória para realização da terapia de ondas de choque. Arquivo pessoal.

Atualmente, o paciente já está apoiando e distribuindo o peso para o membro operado após apenas uma sessão de terapia de ondas de choque e algumas sessões de fisioterapia, evidenciando a eficácia das intervenções realizadas. A dedicação dos tutores e o apoio contínuo da equipe veterinária são fundamentais para a recuperação total do animal. Com o cuidado contínuo e a manutenção dos tratamentos, espera-se uma reabilitação completa em poucos meses.

A combinação cuidadosa de intervenções cirúrgicas e terapias complementares demonstrou ser crucial para o sucesso do tratamento. A cirurgia inicial, que envolveu a fixação com placa e parafusos, apresentou desafios devido à excessiva estabilização, resultando em não-união óssea. No entanto, a posterior substituição da placa por um fixador externo tipo Ilizarov, associada a autoenxerto ósseo e sulfato de cálcio, foi fundamental para estimular a cicatrização.

Os tratamentos complementares, incluindo magnetoterapia, terapia de ondas de choque, fisioterapia, acupuntura e ozonioterapia, desempenharam papéis essenciais na recuperação do paciente. A magnetoterapia e a terapia de ondas de choque foram particularmente eficazes em promover a osteogênese e a remodelação óssea. A fisioterapia, ajustada para o tipo de fixador, ajudou a manter a mobilidade e reduzir o risco de complicações, enquanto a acupuntura e a ozonioterapia contribuíram para a redução da dor e a melhoria da circulação local.

5. CONCLUSÃO

A recuperação do Spitz Alemão com fratura complexa do rádio do membro torácico esquerdo exemplifica a importância de uma estratégia terapêutica abrangente e multidisciplinar. A primeira cirurgia revelou desafios devido à fixação excessiva, resultando em não união óssea. A mudança para um fixador externo tipo Ilizarov, juntamente com o autoenxerto ósseo e sulfato de cálcio, foi essencial para promover a cicatrização. Complementando a abordagem cirúrgica, as terapias como magnetoterapia, ondas de choque, fisioterapia, acupuntura e ozonioterapia desempenharam papéis fundamentais na recuperação. Essas terapias auxiliaram na regeneração óssea, alívio da dor e manutenção da mobilidade, sublinhando a eficácia de um tratamento integrado e adaptado às necessidades individuais do paciente para alcançar uma reabilitação bem-sucedida e completa.

REFERÊNCIAS

1. FOSSUM, Theresa Welch. Cirurgia de pequenos animais. 3. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

2. GUGENHEIM, J. Nonunion and Delayed Union. In: Current Therapy in Orthopedic Surgery. St. Louis: Mosby-Year Book, 1998. p. 157-166.

3. ARONSON, J. Limb-lengthening, skeletal reconstruction, and bone transport with the Ilizarov method. J Bone J Surg (Am), v.79-A, n.8, p.1243-1258, 1997.

4. SCHWARTSMAN, C. R.; PILLA, E. S.; CARDOSO, M. J. Pseudoartroses e consolidações atrasadas. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 25, n. 7, p. 239-244, 1990.

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Beatriz Carvalho Silva

Graduanda do 10° semestre de Medicina Veterinária pela Universidade Metodista de São Paulo – UMESP. Atualmente cursando o intensivo de Acupuntura Veterinária na ANCLIVEPA-SP. Possui 4 anos de experiência em estágio na área de reabilitação veterinária na Movida Reabilitação Veterinária – unidade Mauá. 

Milton Kolber

Graduação: Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo
Mestrado: 1999 em Medicina Veterinária pela Universidade Paulista
Doutorado: 2006 em Epidemiologia Experimental Aplicadas às Zoonoses pela Universidade de São Paulo
Especialista em Diagnóstico por Imagem pelo Colégio Brasileiro de Radiologia
Exerce a função de Professor Titular na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Paulista-UNIP; Professor Adjunto C da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Metodista de São Paulo e Professor Assistente do Centro Universitário São Camilo
Possui experiência em Patologia Clínica Animal, Diagnóstico por Imagem, Clínica Médica de Pequenos Animais, Zoonoses, Doenças Infecciosas, Doenças Parasitárias
Possui trabalhos publicados em revistas e Congressos, além de orientar vários alunos em Trabalhos de Conclusão de Curso.
Curriculum Lattes:  http://lattes.cnpq.br/2672092864567411