Por Hugo Paes Bezerra1, Ana Thereza M. de Macêdo2, Nhatalia C. S. L. Da Silva3, Heloysa Almeida Bezerra4, Anaemilia das N. Diniz5, Chiara R. de A. Lopes6
Padronização das dimensões cardíacas pelo método vertebral heart size (VHS) em cães da raça American Bully
ABSTRACT. – Bezerra, H. P. 2021. [Standardization of cardiac dimensions by the vertebral heart size method (VHS) in American Bully dogs] Padronização das dimensões cardíacas pelo método vertebral heart size (VHS) em cães da raça American Bully. Cardiologia Veterinária em foco. Faculdade de Medicina Veterinária,
Universidade Federal de Alagoas, Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca), BR – 104, Km 85, S/N, Rio Largo, AL 57100-000, Brazil.
E-mail: [email protected]
Abstract – This study aimed to determine the normal VHS (Vertebral Heart Size) values of American Bully dogs. This method relates the measured value of the heart in its short and long axes in thoracic vertebrae of the animal. Proposed by Buchanan and Bucheler in 1995, it establishes the normal values of the size of the cardiac silhouette for dogs, with a reference value of 9.7±0.5 vertebrae. However, some dog breeds diverge from the reference values established in the literature, due to the different morphologies characteristic of each racial group, as well as their anatomical particularities. Thoracic radiography of 50 healthy American Bully animals were evaluated to obtain VHS values. Radiographic images were divided into two groups: Group I – 7 to 11 months of age and Group II – 1 to 5 years of age. The data indicate that there was no difference between the mean VHS values observed for the two age categories evaluated (p>0.05). VHS showed an overall mean ± standard deviation of 11.68±0.74 and minimum and maximum values of 10.1 and 12.6, respectively. The VHS of American Bully dogs differs from the reference value for the species (p<0.05) obtained by Buchanan and Bucheler.
Keyword: Thoracic radiography. Heart disease. American Bully.
Resumo – Este trabalho teve como objetivo determinar os valores de VHS (Vertebral Heart Size) normais de cães da raça American Bully. Esse método relaciona o valor mensurado do coração em seus eixos curto e longo em vértebras torácicas do animal. Proposto por Buchanan e Bucheler em 1995, estabelece os valores de normalidade do tamanho da silhueta cardíaca para cães, com valor de referência de 9,7±0,5 vértebras. Porém, algumas raças de cães divergem dos valores de referências estabelecidos na literatura, devido as diferentes morfologias características de cada grupo racial, como também suas particularidades anatômicas. Foram avaliadas radiografias torácicas de 50 animais da raça American Bully, saudáveis, para obtenção dos valores de VHS. As imagens radiográficas foram divididos em dois grupos: Grupo I – 7 a 11 meses de idade e Grupo II- 1 a 5 anos de idade. Os dados apontam que não houve diferença entre os valores médios de VHS observados para as duas categorias de idade avaliadas (p>0,05). O VHS apresentou média geral ± desvio padrão de 11,68±0,74 e valores mínimo e máximo de 10,1 e 12,6, respectivamente. O VHS de cães da raça American Bully difere do valor de referência para a espécie (p<0,05) obtidos por Buchanan e Bucheler.
{PAYWALL_INICIO}
Palavra-chave: Radiografia torácica. Cardiopatia. American Bully.
INTRODUÇÃO
O exame radiográfico do tórax é um método de diagnóstico valioso para investigação de enfermidades em cães, tanto para o diagnóstico de doenças intratorácicas, como um meio de triagem para determinar a extensão de doenças sistêmicas.1 Este exame mostra-se como um método de muita utilidade para avaliação de pacientes com doença cardiovascular, pois o aumento ou a modificação da silhueta cardíaca nas radiografias torácicas é um grande indício de patologias do coração.2
A proposta mais objetiva para avaliar o tamanho do coração é o método denominado vertebral heart size (VHS) ou avaliação do tamanho do coração em relação à unidade de vértebra torácica, descrito pela primeira vez por Buchanan e Bücheler em 1995.3 Esse método de mensuração cardíaca continua sendo um dos mais indicados para triagem das cardiopatias, no entanto, existe uma variação considerável entre as raça de cães nos valores de VHS, demostrando a importância de padronização para diferentes raças.4
A raça American Bully é originária dos Estados Unidos, como uma extensão do American Pit Bull Terrier, para se obter um cão de companhia. A raça surgiu em meados da década de 1990, atingindo grande popularidade nos EUA e exterior, inclusive no Brasil, sendo reconhecida pelo United Kennel Club em 15 de julho de 2013.5
Sabe-se que as raças bulls que compuseram a origem do American Bully são acometidas por determinadas desordens cardíacas, as quais se não diagnosticadas precocemente e tratadas, podem resultar na morte do animal. Associado à diversidade dos valores de referência referentes aos parâmetros cardiovasculares das raças caninas existentes, observa-se a necessidade de padronização dos valores de normalidade da morfologia e função cardiovascular em exemplares dessa raça, ainda desconhecidos.
Diante da ausência de estudos específicos quanto à avaliação morfológica do aparelho cardiovascular de cães da raça American Bully, pretende-se com os dados obtidos dessa experimentação estabelecer parâmetros de normalidade para a raça. A partir daí, posteriormente, utilizá-los como forma de triagem para diagnosticar e acompanhar a incidência de cardiopatias em exemplares da raça. Contudo, o objetivo deste trabalho foi estabelecer valores de VHS como parâmetros de normalidade para a raça American Bully, por meio do método descrito por Buchanan e Bücheler em 1995.
MATERIAL E MÉTODOS
As atividades foram realizadas no Centro de Diagnóstico por imagem- FOCUS, na cidade de Maceió-AL. O estudo se baseou na análise de dados obtidos das radiografias torácicas de 50 cães clinicamente hígidos da raça American Bully, dos quais, 21 eram filhotes, com idades entre 7 e 11 meses; e 29 adultos, de 1 a 5 anos.
As radiografias torácicas analisadas foram realizadas com os animais posicionados em decúbito lateral direito, para projeção lateral direita e em decúbito dorsal, para projeção ventrodorsal. Os exames radiográficos foram realizados na fase de inspiração máxima.
A avaliação qualitativa das radiografias foi realizada a fim de excluir os animais que apresentassem quaisquer alterações radiográficas. Dentre as alterações, destacam-se: Edema pulmonar, efusão pleural, estenose e colapso de traqueia e hemivértebras.
Em seguida, as radiografias foram avaliadas quantitativamente pelo método de mensuração vertebral heart size (VHS), proposto por Buchanan e Bucheler.
Utilizou-se o programa Carestream Image Suite Veterinary para as medições morfométricas do eixo longo e eixo curto do coração. A projeção escolhida para as avaliações foram as radiografias laterais direita. Mediu-se o eixo maior do coração com auxílio de um uma régua desde a borda ventral do brônquio principal esquerdo até o ponto mais distante do contorno ventral do ápice cardíaco. A medida obtida foi então reposicionada ao longo da coluna vertebral, iniciando na borda cranial da quarta vertebra torácica. A distância correspondente ao eixo maior do coração foi transformada em valores com unidade de vertebras, e aproximação de 0,1 vertebras. Com isso, o comprimento do coração foi registrado como o número de vertebras caudais daquele ponto.
Para a mensuração do eixo menor, uma linha perpendicular ao eixo maior foi traçada na altura do terço central do coração. Em seguida, o eixo menor foi obtido da mesma maneira, começando a partir da borda cranial de T4. O comprimento e a largura do coração foram então somados para obter o VHS.
Para análise estatística dos dados realizaram-se o teste t de Student e a análise de correlação de Pearson, ao nível mínimo de significância de 0,05, mediante o pacote Rcommander do programa estatístico R.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A avaliação qualitativa das imagens radiográficas de tórax foi essencial para escolha dos animais a serem selecionados para o estudo. Além dos 50 cães selecionados, 7 animais apresentaram imagem radiográfica compatíveis com hemivértebras (Figura I), os quais foram excluídos do estudo. Hemivértebras são anomalias congênitas na formação do corpo vertebral, de ocorrência mais frequente na região da coluna toracolombar, os quais apresentam, dentre outras alterações, diminuição do tamanho anatômico.7
As demais estruturas torácicas, entre elas, a silhueta cardíaca, o parênquima pulmonar e traqueia apresentavam imagens radiográficas normais.
Na avaliação quantitativa da silhueta cardiaca foi utilizado o método de mensuração vertebral heart size (VHS), proposto por Buchanan e Bucheler (1995). O VHS apresentou média geral ± desvio padrão de 11,68±0,74 unidades vertebrais, com mínimo de 10,1 e máximo de 12,6 (Gráfico I). Os intervalos de confiança de 95% e de 99% para a média, obtidos no presente estudo foram, respectivamente, 11,47 – 11,68 e 11,41 – 11,95.
O VHS de cães American Bully diferiu (p<0,05) do valor médio de referência (9,7±0,5) obtidos por Buchanan e Bucheler para a espécie canina (Gráfico I). Apesar disso, o valor de VHS deste estudo se altera de modo semelhante ao descrito em diversas raças, inclusive como aos de raças que fizeram parte da formação da raça American Bully, destacando-se o American Pit Bull Terrier, com valores de VHS com média geral ± desvio padrão de 10,9±0,4 unidades vertebrais8 e o Buldogue Inglês com média geral de 12 unidades vertebrais.9
O tamanho da silhueta cardíaca em proporção as vértebras torácicas não mudam em cães a cima de 3 meses de idade. Por isso o método VHS pode ser aplicado tanto em filhotes quanto em adultos.10 No estudo em questão, não houve diferença entre os valores médios de VHS observados para as duas categorias de idade avaliadas (p>0,05), sejam elas: filhotes (de 7 a 11 meses) e adultos ( de 1 ano a 5 anos) (Tabela I).
O VHS não apresentou relação (r=0,13) com a idade (p>0,05) (Gráfico II)
Este estudo demonstra a importância da avaliação das particularidades raciais para uma boa abordagem médica. Nesse intuito, a padronização do VHS em diferentes raças é extremamente relevante, devido aos valores encontrados pra raça aqui avaliada serem superiores aos descritos na literatura como valores de referência para cães.
CONCLUSÃO
Não existem diferenças significativas entre VHS de American Bullys filhotes e adultos, sugerindo um único valor independente da idade.
Cães da raça American Bully apresentam VHS específico para a raça.
A padronização dos valores de VHS para cada raça canina é fundamental, devido as diferentes conformações anatômicas e morfológicas, para auxiliar de forma efetiva no diagnóstico e acompanhamento de cardiopatias.
REFERÊNCIAS
BRADLEY, K. Radiology of the thorax. In: Holloway, A.; McConnell, J. F. BSAVA Manual of Canine and Feline Radiography and Radiology, A Foundation Manual. British Small Animal Veterinary Association. 2013. p. 109-175.
LJUBICA, S. K.; KRSTIC. N.; TRAILOVIC. R. D. Comparison of Three Methods of Measuring Vertebral Heart Size in German Shepherd Dogs. Acta Veterinaria (Beograd), v. 57, p.133- 141, 2007.
BUCHANAN, J. W.; BUCHELER, J. Vertebral scale system to measure canine heart size in radiographs. Journal American Veterinary Medical Association, v. 206, n. 2, p. 194- 199, 1995.
LAMB, C. R.; WIKELEY, H.; BOSWOOD, A.; PFEIFFER, D. U. Use of breed-specific ranges for the vertebral heart scale as an aid to the radiographic diagnosis of cardiac disease in dogs. The Veterinary Record, v. 148, n. 23, p. 707–711, 2001.
UKC. United Kennel Club. American Bully breed standart, 2013.
FEITOSA, F.L.F. Semiologia Veterinária, 3º ed. Ed. Roca, São Paulo, 2014.
Carvalho, M. C. F.; Hemivértebra em Cães – Revisão de Literatura. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP. São Paulo: Conselho Regional de Medicina Veterinária, v. 13, n. 2 (2015), p. 16 – 21, 2015.
CARDOSO, M. J. L.; CALUDINO, J. L.; MELUSSI, M. Measurement of heart size by VHS (vertebral heart size) method in healthy American pit bull terrier. Ciencia Rural, v. 41, n. 1, p. 127–131, 2011.
BASLLE, a. Avaliações ecodoppler-cardiográfica, eletrográfica computado-rizada, radiográfica e morfométrica em cães adultos da raça bulldog inglês. Dissertação, ufg, Goiania, 2008.
SLEEPER, M. M. Vertebral scale system to measure heart size in growing puppies. JAVMMA, vol 219, nº 1, july, 2001.
Hugo Paes Bezerra
Graduado em Direito pela Universidade Federal de Alagoas (2017).
Graduado em Medicina Veterinária pelo Centro Universitário CESMAC (2018).
Pós-graduado em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais pela Qualittas.
Mestrando em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Alagoas.
Ana Thereza M. de Macêdo
Graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Potiguar – RN em 2019.
Atualmente mestranda em Ciência Animal – Universidade Federal de Alagoas UFAL 2019. Atua na área de Clínica Médica e Imaginologia em Pequenos Animais.
Nhatalia C. S. L. Da Silva
Graduanda em Medicina Veterinária pela Universidade Universidade Federal de Alagoas. Atua na área de Clínica Médica e Imaginologia em Pequenos Animais.
Heloysa Almeida Bezerra
Graduanda em Medicina Veterinária pela Universidade Universidade Federal de Alagoas. Atua na área de Clínica Médica e Imaginologia em Pequenos Animais.
Anaemilia das N. Diniz
Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Semiárido. Mestre em Ciência Animal pela Universidade Federal o Piauí. Aperfeiçoamento em Cardiologia Veterinária pela Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho – UNESP Jaboticabal. Doutora em Ciência Animal pela Universidade Federal do Piauí, atuando nas áreas de Fisiologia e Imaginologia Veterinária com ênfase em anatomia por imagem e cardiologia veterinária. É diretora científica da regional nordeste da Sociedade Brasileira de Cardiologia Veterinária. Tem formação em Master Coach Criacional pelo Instituto Gerônimo Theml de Coaching e Desenvolvimento Humano. Especialização em Coaching Financeiro pelo Instituto Soaper. É criadora da disciplina de coaching na graduação e pós-graduação. Finalista do prêmio “Coaching Awards” com o projeto “Coaching nas universidades”. Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Alagoas ministrando as disciplinas de fisiologia veterinária, imaginologia veterinária, coaching aplicado a graduação. É professora do programa de pós-graduação em ciência animal da Universidade Federal de Alagoas ministrando as disciplinas de Tópicos avançados em imaginologia veterinária e Coaching aplicado ao desenvolvimento profissional para o programa de pós-graduação.
Chiara R. de A. Lopes
Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Federal de Alagoas (2003), mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (2006) e doutorado em Zootecnia pelo Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia – UFRPE/UFPB/UFC (2010). Atualmente é professora da graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Alagoas (Medicina Veterinária). Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Produção de Ruminantes.
{PAYWALL_FIM}