Orientações de nefrologia e urologia do gato

Por: Lilian Stefanoni Ferreira Blumer; Mariana Emerenciano Fava; Mariana Silva de Moraes; Mayara Farias Lopes Barbosa; Natalia Conte Golçalves e Verena Gottardello Marrafon

Orientações de nefrologia e urologia do gato

INTRODUÇÃO

O sistema urinário de cães e gatos é formado pelos rins, ureteres, bexiga e uretra. O desenvolvimento de doenças urinárias em cães e gatos é comum; daí a importância de uma avaliação minuciosa para estabelecimento de diagnóstico adequado e tratamento apropriado.

Este guia tem como objetivo fornecer informações básicas sobre as principais enfermidades do sistema urinário de cães e gatos.

É importante enfatizar que caso seu animal de estimação apresente qualquer alteração é importante que ele seja atendido por um Médico Veterinário.

{PAYWALL_INICIO}

INJÚRIA RENAL AGUDA (IRA)

A. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A IRA é determinada como o declínio abrupto ou perda súbita da função renal, podendo ou não ser revertida.

Por conta de suas características anatômicas e fisiológicas, o rim pode sofrer os efeitos da suspensão da circulação do sangue, alterações inflamatórias, lesão por ação de agentes tóxicos e ainda falha na filtração promovida por processos obstrutivos.

A falha na filtração acarreta significativo aumento de substâncias tóxicas na circulação.

A IRA apresenta 3 fases: indução, manutenção e recuperação.

Na indução, a função renal ainda está adequada e diagnosticar nessa fase pode evitar a evolução da doença. Na segunda fase temos a elevação de ureia e creatinina.

E por último temos a fase de recuperação, nessa fase poderá ocorrer a reparação das lesões no rim e a melhora da sua função.

Os néfrons saudáveis ou menos lesados (remanescentes) crescem de tamanho (hipertrofiam) e compensam a falta dos outros, recuperando a função dos rins. É necessário ressaltar a necessidade de procurar um Médico Veterinário para que o diagnóstico seja feito precocemente, para o mesmo escolher o melhor tratamento e assim evitar a evolução da doença.

B. CAUSAS

A lesão renal está relacionada principalmente com a isquemia (falta de circulação adequada), ação direta de agentes tóxicos para o rim (nefrotóxicos), processos inflamatórios e obstrutivos.

Esses danos afetam todas as funções dos rins e fazem com que compostos que deveriam ser excretados (como ureia e creatinina), fiquem circulando no sangue causando um desequilíbrio e deficiência.

C.PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES

Sinais clínicos:

•Vômito, diarréia, presença de sangue nas fezes

•Perda de apetite, emagrecimento, desidratação e anemia

•Úlcera na boca, mal hálito, coloração parda na língua

•Bebendo muita água e urinando pouco

•Diminuição dos batimentos cardíacos, arritimias

•Depressão, tristeza, desânimo

D. TRATAMENTO

O tratamento da IRA pode variar entre os indivíduos acometidos e depende da causa. Depois de um diagnóstico, o objetivo principal é tratar o que quer que esteja causando sua lesão renal aguda, para que os rins possam recuperar a função. A IRA requer tratamento imediato e pode ser reversível se diagnosticada e tratada rapidamente.

DOENÇA RENAL CRÔNICA (DRC)

A. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

É bastante comum em cães e gatos, podendo ocorrer em qualquer idade, sendo mais frequente em idosos e é caracterizada pelo comprometimento da função e da estrutura dos rins por tempo prolongado (3 meses ou mais).

A DRC, na maioria das vezes, em animais idosos é promovida por um processo de lesão progressiva e a causa básica não é determinada, mas também existem os processos congênitos que afetam animais jovens.

Para realização do diagnóstico além do atendimento clínico são realizados exames laboratoriais, de imagem e avaliação microscópica das células renais.

B. PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES

Sinais clínicos:

•Vômito, diarréia, presença de sangue nas fezes

•Perda de apetite, emagrecimento e desidratação

•Úlcera na boca, mal hálito, coloração parda na língua

•Produção de urina em grande quantidade

•Problemas cardíacos, infecção urinárias

•Depressão e desânimo

C. TRATAMENTO

•Dieta

•Hidratação adequada

•Controle do vômito

•Controle de alterações de apetite e ração específica

•Controle das alterações causadas pela má função renal

•Terapia medicamentosa para regulagem mineral

UROLITÍASE

A. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O sistema urinário dos animais domésticos forma urina mais concentrada e a eliminação de resíduos corpóreos pode ter a presença de minerais (cristais) que podem precipitar-se e formar os cálculos.

A urolitíase (cálculo ou “pedra”) é decorrente de vários fatores que abrangem espécie, sexo, raça, idade, alterações anatômicas e funcionais do trato urinário, irregularidades do metabolismo, infecções do trato urinário, dieta, pH da urina e quantidade de água no organismo.

Os sinais que seu animal pode apresentar dependem da localização dos cálculos. A maioria deles está localizada na bexiga urinária ou na uretra e apenas uma pequena porcentagem se aloja nos rins ou ureteres.

B. PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES

Sinais clínicos:

•Pequenos cálculos na urina ou impossibilidade de urinar

•Odor na urina ou odor ao urinar

•Acúmulo de liquído no abdomên ou sob a pele

•Aumento de compostos tóxicos no sangue

•Sangue na urina

•Micção frequentes ou incontinência urinárias

C. TRATAMENTO

•Dietas para dissolver os cálculos

•Primeiro diagnosticar qual é o tipo de Urólito presente

•Tratar doença base

•Remoção cirurgica, laser ou urohidropropulsão

•Tratar infecções quando presentes

O tratamento depende da localização e do tipo de cálculo. Os princípios gerais incluem a remoção desses cálculos através de procedimentos cirúrgicos ou medicamentoso, reduzindo o risco de recorrência e controlando problemas secundários (por exemplo, prevenção de infecções). Alguns tipos de urólitos podem ser dissolvidos por alimentação com dietas especiais formuladas para esse fim. Se houver infecção, devem ser administrados antibióticos.

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO

A. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A infecção do trato urinário (ITU) é uma infecção causada por organismos microbianos (geralmente bactérias) de qualquer parte do trato urinário, sendo mais comum na bexiga e na uretra.

As ITUs são mais comuns em cães que em gatos e suas causas são significativamente diferentes. Os sinais mais frequentes da doença são a presença de dor para urinar e sangue na urina.

B. CAUSA

Essa infecção pode ser causada principalmente por bactérias, mas podem também ser causadas por fungos e vírus.

C. PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES

Sinais clínicos:

•Urgência para urinar, dor ou desconforto

•Febre, letargia

•Aumento de compostos tóxicos no sangue

•Rins doloridos e/ou com aumento de tamanho

•Anorexia, vômito, dor abdominal

•Sangue na urina

D. TRATAMENTO

•Antibioticoterapia

•Terapias complementares

•Diagnosticar se a infecção é no trato urinário inferior ou superior

•Diferenciar infecção aguda de crônica

•Constatar se há presença de fatores predisponentes

•Controle do vômito e febre

DOENÇA DO TRATO URINARIO INFERIOR DE FELINOS (DTUIF)

A. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A DTUIF é um termo utilizado para se referir à inflamação das vias urinárias inferiores (bexiga e uretra) dos gatos. Essa inflamação pode possuir diferentes causas, mas na maioria das vezes tem o estresse como elemento importante.

Os animais acometidos podem apresentar dor ou dificuldade para urinar, presença de sangue na urina, micção em locais inapropriados ou fora de costume.

O ambiente em que o animal vive e sua dieta também são pontos importantes a serem investigados. Um ambiente estressante, onde o felino não se sente confortável pode predispor a obstruções uretrais, bem como dietas inadequadas que resultam em alterações ao longo do trato urinário com desfecho inflamatório.

B. PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES

Sinais clínicos:

•Desânimo

•Urina com presença de sangue

•Aperente dor ao urinar, com possíveis vocalização

•Desconforto na manipulação

•Diminuição na ingestão de água e/ou alimento

•Urinar com mais frequência e menor quantidade

C. TRATAMENTO

•Analgesia

•Restabelecimento do fluxo urinário

•Suporte para correção de desidratação com fluidoterapia

•Antibiótico e antinflamatórios

•Monitoração para acompanhamento do quadro

INCONTINÊNCIA E RETENÇÃO URINÁRIA

A. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A incontinência urinária é facilmente confundida com o comportamento anormal repentino de animais idosos, que começam a fazer sua micção em locais aleatórios, fora do que sempre foi habitual.

Já a retenção urinária pode ser definida pelo esvaziamento incompleto da bexiga, ficando armazenado dentro do órgão um volume de urina maior do que o normal, podendo evoluir para um quadro de incontinência urinária. Assim como na incontinência, pode ser desencadeada por diversas causas.

B. PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES

Sinais clínicos:

•Extravasamento de urina no exercício

•Dor abdominal, apatia e vômito

•Urinar por diversos locais da casa

•Gotejamento de urina e lambedura da vulva ou do pênis

•Poças de urina onde o animal costuma ficar deitado

•Distensão abdominal e falha ao urinar

C. TRATAMENTO

•Antibióticos para causas infecciosas

•Hormômios reprodutivos como estrógenos

•Causas neurogênicas: Tratamento específico para cada causa

•Obstrução, anomalias anatômicas- cirurgia

•Restabelecer a contratibilidade ideal da bexiga

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Os sintomas de distúrbios urinários podem se apresentar de forma variada. Sendo assim, é importante estar bem atento com os sinais de alerta para que seu cão ou gato possa ter um diagnóstico precoce e iniciar o tratamento o mais cedo possível. Daí a importância da avaliação do seu animal de estimação por um Médico Veterinário.

Fizemos esse material com o propósito de reunir e disseminar o conhecimento sobre o funcionamento e as condições patológicas do sistema urinário de cães e gatos.

SUGESTÕES DE LEITURA:

American Association of Feline Practitioners. Veterinary professionals passionate about the care of cats. Página inicial. Disponível em: < https://catvets.com/>. Acesso em: 19 de out. de 2021.

Colégio Brasileiro de Nefrologia e Urologia Veterinária. CBNUV. Página inicial. Disponível em:< https://www.cbnuv.com.br/>. Acesso em: 19 de out. de 2021.

International Renal Interest Society (IRIS).2021. Página inicial. Disponível em: <http://www.iris- kidney.com/guidelines/>. Acesso em: 19 de out. de 2021.

Lilian Stefanoni Ferreira Blumer

Graduação em Medicina Veterinária pela Unesp - Campus Araçatuba Residência em Clínica Médica de Pequenos Animais pela Unesp - Campus de Jaboticabal Mestrado em Medicina Veterinária com ênfase em Nefrologia e Urologia de cães e gatos pela Unesp - Campus de Jaboticabal Membro do Colégio Brasileiro de Nefrologia e Urologia Veterinárias - CBNUV Professora de graduação e pós-graduação em Faculdades de Medicina Veterinária Atendimento em Nefrologia de cães e gatos.

Mariana Emerenciano Fava

Graduanda do 9º semestre de Medicina Veterinária pela Unip (Universidade Paulista) - Campinas. Vice presidente do GEMVET (grupo de estudos em medicina veterinária) em 2021. Estagiária no hospital veterinário Clinicão e Gato em Jundiaí.

Mariana Silva de Moraes

Graduanda do 9º semestre de Medicina Veterinária pela Universidade Paulista (UNIP) - Campinas. Enfermeira no hospital Clínica Animal Campinas 24h Setembro 2020 - Fevereiro 2022. Membro do grupo de estudos de pequenos animais (GEPETS) 2019 - presente

Mayara Farias Lopes Barbosa

Graduanda do 8º semestre de Medicina Veterinária pela Universidade Paulista (UNIP) – Campinas. Participando do programa de iniciação científica pela UNIP. Estagiária no hospital SOS Animal em São Roque desde agosto de 2020. Presidente do Grupo de Estudos de Medicina Felina (GEMFel) desde 2019

Natalia Conte Gonçalves

Graduanda do 9° semestre de Medicina Veterinária pela Unip (Universidade Paulista) - Campinas.

Verena Gottardello Marrafon

Graduanda do 9º semestre de Medicina Veterinária pela Unip (Universidade Paulista) - Campinas. Iniciação Científica com bolsa do CNPq pela USP de Setembro de 2020 a setembro de 2021. Estágio realizado no Zooparque Itatiba em Julho de 2019. Presidente do GEMVET (grupo de estudos em medicina veterinária) em 2021.

{PAYWALL_FIM}