MERCADO VETERINÁRIO MUNDO AFORA

Profissionais que saíram do Brasil comentam sobre a Medicina Veterinária nos respectivos países onde atuam (EUA, Canadá e Espanha)

Olhar para o mercado veterinário fora do Brasil traz aprendizado e conhecimento sobre o que podemos melhorar, ou ainda, o que temos de bom em nosso país e que deve ser valorizado. A seguir, perguntamos aos brasileiros que moram fora do Brasil há algum tempo e atuam como médicos-veterinários em outros países, sobre a percepção deles por lá. Os profissionais que você conhecerá a seguir, serão palestrantes do Congresso Medicina Veterinária em Foco (www.congressovetemfoco.com.br), que será realizado em Campinas-SP, entre os dias 25 e 27 de abril, de 2023.

 

Foto: Divulgação  “Nos EUA, há uma cobrança muito grande do mercado por profissionais altamente especializados e especialistas diz Dr. Thiago Rinaldi Muller, residente em diagnóstico por imagem da Tufts University, nos EUA”

MERCADO NORTE-AMERICANO

Natural de Florianópolis-SC, o médico-veterinário Dr. Thiago Rinaldi Muller, realizou seu mestrado e doutorado em diagnóstico por imagem na Unesp de Botucatu, é sócio fundador da UniRadio Soluções Radiológicas e coordenador técnico da UniRadio Cursos. Há quase 2 anos, mora em Grafton, Massachusetts, nos Estados Unidos (EUA), onde atua como residente em diagnóstico por imagem da Tufts University. “Vim para aprender mais sobre as modalidades avançadas de imagem, me desafiar e passar por um dos melhores treinamentos que existem para formar um radiologista” aponta Dr. Thiago, que através de sua empresa de telerradiologia, oferece serviços e treinamento para veterinários do mundo todo. “Nosso setor de diagnóstico por imagem de última geração inclui uma unidade de ressonância magnética, duas salas de ultrassom, uma sala de medicina nuclear totalmente equipada e uma unidade de TC helicoidal multislice. Ambas as suítes de ressonância magnética e computadorizada são as únicas unidades de seu tipo que atendem equinos e animais de companhia na região”, lista o veterinário, que teve dificuldade em se adaptar no sistema de trabalho dos EUA. “A maturidade do mercado pet e da medicina veterinária nos Estados Unidos é incomparável com outros mercados. É o país que tem mais pets no mundo, além disso, o nível de medicina praticada e o acesso a procedimentos avançados é enorme aqui. Mesmo com bastante experiência no Brasil, foi desafiador conseguir me adaptar a esse diferente sistema de trabalho. Aqui, há uma cobrança muito grande do mercado por profissionais altamente especializados e especialistas. Com isso, um especialista é reconhecido e tem melhores oportunidades de trabalho”, diz. Além disso, Dr. Thiago aponta que o processo de formação de um médico-veterinário nos EUA é muito diferente. “Antes de ingressarem na veterinária, os alunos cursaram quatro anos de faculdade. Além disso, há apenas 32 escolas de veterinária. No geral, há menos veterinários formados nos EUA que no Brasil. Nos EUA, não se dá muito valor a mestrado ou doutorado. A maior parte dos professores nas universidades norte-americanas não tem mestrado ou doutorado, mas são especialistas em suas áreas. Com isso, eles têm muita experiência clínica para ensinar aos alunos. Para se tornar especialista nos EUA, globalmente, é preciso de um ano de internato à três anos de residência, e depois disso, é preciso passar nas provas do colégio”, detalha.
No Congresso Imagem em foco, que será realizado nos dias 26 e 27 de abril, de 2023, em Campinas-SP, Dr. Thiago fará uma série de palestras falando sobre avanços em diagnóstico radiográfico por Telemedicina, além de apresentar vários casos importantes na radiologia torácica e abdominal. “Vou abordar também padrões pulmonares em felinos e mostrar um pouco da minha rotina aqui nos EUA. Trabalho em um dos hospitais acadêmicos mais movimentados dos EUA e então será uma excelente oportunidade de mostrar algumas diferenças entre a nossa veterinária e a deles”, finaliza.

 

Foto: Arquivo Pessoal
“Acredito que no Brasil os profissionais fazem veterinária por vocação, já na Europa, nem todos diz Dr. Marcelo Pappis, da clínica veterinária Peluts, de Barcelona”

DIRETO DA ESPANHA

Nascido em Porto Alegre-RS, Dr. Marcelo Pappis hoje atua em Barcelona, na Espanha, na clínica veterinária Peluts. “Estou há 9 anos fora do Brasil, e o que me motivou a ter saído foi ter ganho uma bolsa para pós-graduação em Portugal e o estilo de vida na Europa”, compartilha Dr. Marcelo, que atua nas áreas de Clínica e Cirugia de pequenos animais e animais exóticos e Medicina integrativa (nutrição animal, terapia neural e ozonioterapia).
Sobre as diferenças que ele nota entre o mercado veterinário europeu e o brasileiro, Dr. Marcelo aponta o atendimento ao cliente. “Acredito que no Brasil os profissionais fazem veterinária por vocação, já na Europa, nem todos. Em Barcelona sempre há falta de veterinários no mercado de trabalho, principalmente na área clínica de pequenos animais”, diz. No Congresso Medicina Felina em Foco, realizado dia 25 de abril de 2023, em Campinas-SP, Dr. Marcelo trará o tema terapia neural. “Os veterinários deveriam olhar e abordar a doença de outra forma. Em minha palestra, falarei desta técnica na qual tratamos individualmente o paciente, levando ordem ao organismo. A terapia neural trata o paciente como um todo e não a doença em si. Acreditamos que qualquer tipo de patologia tem relação com todas as partes do corpo”, finaliza Dr. Marcelo.

 

Foto: Arquivo Pessoal
“O interessante da veterinária é esse aprendizado sem fim, é o que me atraiu para essa área acadêmica e o motivo pelo qual saí do país para buscar esse treinamento avançado em cirurgia diz Dr. Fernando Freitas, do centro de especialidades VEC, do Canadá”

ESPECIALIZAÇÃO NO CANADÁ

O médico-veterinário Fernando Freitas, de São Paulo-SP, partiu do Brasil rumo ao Canadá em 2017, em busca de um treinamento avançado que lhe permitisse obter o título de especialista em Cirurgia de Pequenos Animais, principalmente na área de Ortopedia, que é a que mais lhe atrai. Graduado pela Unesp, em Botucatu–SP, Fernando iniciou sua trajetória de especializações com cursos como o de extensão em neurologia, residência em cirurgia de pequenos animais na Unisa e pós-graduação em ortopedia de pequenos animais na Anclivepa-SP. No Canadá, fez mestrado na universidade de Saskatchewan, seguido de internato de cirurgia de pequenos animais na universidade de Prince Edward Island. Hoje, atua no centro de especialidades VEC, em Toronto. Segundo ele, o caminho da especialização no Canadá é longo. “O tempo para se tornar um especialista é muito maior que no Brasil. A intensidade de treinamento e a carga teórica para se tornar um especialista é grande. Temos que saber a bíblia da cirurgia de pequenos animais, dos autores Tobias & Johnson, praticamente de cor. Além disso, é preciso ler os grandes trabalhos produzidos nos últimos 5 anos antes de fazer o teste para especialista. Mesmo com o título, você tem que provar que se mantém atualizado através de cursos, publicações, etc.”, compartilha. Por conta de toda essa bagagem e investimento pessoal que é preciso para ser um bom cirurgião, Fernando aponta que há também um valor cobrado após esse treinamento para a aquisição do título, chamado de Board Certified. “Também existem clínicos gerais que fazem cirurgia no Canadá. Tendo a capacidade e o treinamento para realizar o procedimento, você pode realizá-lo, mesmo sem o título de especialista”, pondera o veterinário.
Sobre o mercado veterinário no Canadá, Fernando aponta que como o poder aquisitivo das pessoas é maior, os valores cobrados acabam sendo mais altos que no Brasil. Outra peculiaridade, é o fácil acesso aos grandes nomes e Congressos da Veterinária. Fernando, que será palestrante do Congresso Cirurgia em Foco, no dia 26 de abril de 2023, trará, em um tema que foi bastante discutido no ACVS, maior congresso de cirurgia de pequenos animais das Américas: osteosíntese minimamente invasiva com placa (Mipo), e outros tipos de osteosíntese minimamente invasiva que não utilizam placas; fraturas de coluna e o uso de fixador híbrido e circular no tratamento delas. “Apresentarei casos que vemos a melhora no paciente em menos de 24 horas de cirurgia, com um hematoma mínimo, o animal andando super bem, com menos dor no pós-operatório, menos chances de infecção ou de complicações, mostrando o quanto é importante persistir um pouco nesse tipo de cirurgia”, finaliza.

 

 


 

Por Samia Malas