CIRURGIAS PALIATIVAS EM PACIENTES ONCOLÓGICOS

LITERATURE REVIEW: PALLIATIVE SURGERIES IN CANCER PATIENTS

Foto: Sviatlana Barchan/iStoc

Por: Por Aline Zoppa, Beatriz Canhete Ardanuy, Bruna Fernandes Zorzetti e Livia Biazon Dellalio

RESUMO
O tratamento paliativo na medicina veterinária é empregado quando há um paciente no qual os métodos terapêuticos foram esgotados e a principal preocupação é com o bem-estar, conforto do paciente terminal e a possibilidade de uma sobrevida. Na oncologia veterinária possuímos uma casuística relevante dos pacientes que estão em cuidados paliativos, e uma dessas formas é a cirurgia paliativa.
A cirurgia paliativa consiste em proporcionar alívio ao paciente oncológico por meio do procedimento de redução da formação tumoral ou de sua ressecção total, quando possível, permitindo a moderação dos sinais clínicos do paciente.
Palavras chaves: Oncologia, paliativismo, cirurgia, bem-estar animal, terapia.

ABSTRACT
Palliative treatment in veterinary medicine is employed when there is a patient for whom therapeutic methods have been exhausted and the main concern is the well-being, comfort of the terminal patient, and the possibility of survival. In veterinary oncology, we have a relevant case study of patients who are in palliative care, and one of these forms is palliative surgery.
Palliative surgery consists of providing relief to cancer patients through the procedure of reducing the tumor formation or total resection, when possible, allowing for the moderation of the patient’s clinical signs.
Key words: Oncology, palliative care, surgery, animal welfare, therapy.

INTRODUÇÃO
Na oncologia veterinária existem diversos objetivos por trás do procedimento cirúrgico que não necessariamente envolve a cura do paciente. As cirurgias paliativas são realizadas a fim de gerar uma melhora no estado geral do paciente, podendo trazer associadamente um aumento da sobrevida do animal ou não, mas possui como enfoque essencial a possibilidade de gerar melhor bem-estar do paciente e qualidade de vida.
A melhora na qualidade de vida dos pacientes oncológicos, que são eletivos para esses procedimentos, advém da ressecção total da neoformação ou a sua citorredução, quando não for possível realizar a ressecção, com a finalidade de promover alívio dos efeitos causados pela neoformação (como dor, liberação/secreção de hormônios e/ou enzimas, como a histamina no caso de carcinomas, prevenir hemorragias e obstrução de órgãos).

A CIRURGIA PALIATIVA ONCOLÓGICA
O procedimento da cirurgia paliativa no paciente oncológico consiste em uma intervenção visando a melhora da qualidade de vida e proporcionando alívio dos sinais clínicos da neoformação, tais como dor, hemorragia e obstrução de sistemas. Essa intervenção pode ser uma redução da formação (citorredutiva), uma ressecção total ou a amputação de membros (como ocorre em casos de sarcomas) (LEVINE, 2002). Quando pensamos nas cirurgias paliativas nos pacientes oncológicos, podemos observar que os princípios base de cirurgias oncológicas são violados, como o princípio de margens limpas. Entretanto, alguns princípios são conservados como os: de preservação das estruturas anatômicas vitais (tumores envolvendo sistema nervoso central ou bexiga urinária); recidivas tumorais após tentativas de ressecções sem sucesso tornando-se paliativas; neoplasias determinadas, como sarcomas, associadas a altas taxas de recidivas locais mesmo após cirurgias agressivas (DALEK, 2016).

OBJETIVOS E INDICAÇÕES
Essa modalidade cirúrgica é praticada para melhorar a qualidade de vida do paciente em casos em que o grau e o tipo de tumor impedem a cirurgia curativa. Além desses fatores, sabemos que a célula tumoral apresenta uma intensa proliferação, perde facilmente sua capacidade de aderência, secreta enzimas que atacam a matriz extracelular, invade os tecidos vizinhos, adentra os vasos sanguíneos e linfáticos e, por fim, dissemina-se pelo organismo. (MANZAN, 2005).
Podendo ou não proliferar em locais distantes de sua origem, sendo capaz de levar a uma metástase, que também impede a cura. Ainda assim, os animais podem sofrer não apenas com a neoformação, mas também com as síndromes paraneoplásicas. Elas não estão diretamente ligadas aos efeitos físicos do tumor primário ou metastático, podem ser causadas pela produção de substâncias advindas das células tumorais responsáveis por efeitos sistêmicos, pela diminuição de substâncias habitualmente presentes no organismo e pela resposta imunitária do hospedeiro ao tumor. Isto posto, o conjunto de fatores conduzem à cirurgia oncológica paliativa, que tem como finalidade promover o alívio da dor, a melhora das funções vitais, o controle dos sinais clínicos e, se possível, prolongar a vida do animal. A excisão cirúrgica para fins paliativos pode ocorrer de forma variada em diferentes tipos de neoformações, mas o objetivo é o mesmo, como por exemplo:

A. Mastectomia em casos de adenocarcinoma mamário com metástase pulmonar. As glândulas mamárias neoplásicas apresentam mais anastomoses e, com isso, podem alterar o padrão de drenagem linfática, através da formação de novos canais. O sistema linfático é a principal via de metástase de tumor maligno da glândula mamária, por isso, a excisão da cadeia mamária e dos seus linfonodos adjacentes vai beneficiar a qualidade de vida do animal, já que, além de remover o tumor e diminuir as vias linfáticas, vai melhorar os sinais vitais. Mas não necessariamente vai impedir a metástase ou aumentar a sobrevida do animal.
B. Osteossarcoma é um tumor com grande potencial metastático e que causa um desconforto exacerbado no animal. Optar por um tratamento paliativo cirúrgico é a opção mais adequada, já que vai melhorar evidentemente a dor ocasionada pela neoformação.
C. Tumores ulcerados. Existe um grande risco de a infecção local evoluir para infecção sistêmica e o animal falecer. Optar pela retirada do tumor vai cessar a infecção e se aproximar da normalidade dos sinais vitais.
D. Esplecetomia em casos de hemangiossarcoma que sofreram uma ruptura esplênica. O animal está em uma hemorragia ativa, realizar a cirurgia permite a estabilização do choque hemodinâmico agudo. Não necessariamente vai aumentar a sobrevida, mas vai evitar o óbito iminente.
E. Excisão oral do melanoma. Existem dois tipos de crescimento tumoral: radial e vertical. O aspecto vertical tem uma forma de massa em expansão em camadas dérmicas mais profundas. Apresenta tendência a sofrer metástase em 2 vias: linfática ou hematógena (para os pulmões). Além disso, tem caráter infiltrativo, exigindo uma cirurgia com ampla margem cirúrgica. Como nem sempre essa margem pode ser atingida, analisamos o quadro geral do paciente, visto que às vezes os benefícios da cirurgia podem ser mínimos em relação à sobrevida do paciente. Se for mais benéfico, optamos pela cirurgia paliativa. Ela não vai impedir necessariamente o crescimento do tumor, já que apresenta um comportamento biológico agressivo, nem impedir a metástase, inclusive tem um caráter metastático significativo.

ASSOCIAÇÃO DE CIRURGIA PALIATIVA COM MODALIDADES TERAPÊUTICAS
Ao contrário dos métodos terapêuticos, a cirurgia paliativa não visa trazer melhora quanto ao período de sobrevida do animal. Mas, quando associados a modalidades terapêuticas (como: quimioterapia e radioterapia) observamos um aumento significativo. Tal associação pode ser realizada da seguinte maneira:

A. Pós-cirúrgica: o procedimento de citorredução é realizando anteriormente à quimioterapia ou radioterapia, sendo mais efetivo para a eliminação das células neoplásicas de pequeno número;
B. Intraoperatória: o procedimento de radioterapia é realizado durante a cirurgia de citorredução, é realizado quando a neoformação é de caráter lesivo à radiação (ex.: carcinoma de células de transição localizados na bexiga);
C. Pré-cirúrgica: o procedimento é realizado quando é necessária a redução tumoral para realizar a ressecção total, sem que haja necessidade de terapias adjuvantes. (DALEK, 2016).

CONCLUSÃO
O cuidado compassivo do animal, atualmente evidenciado por uma extrema manifestação de carinho, com recurso aos conhecimentos científicos mais modernos, é um dos novos desafios da Enfermagem e da Medicina Veterinária, assumindo importância crescente em todas as fases de tratamento de pacientes oncológicos. Este tipo de cuidados surge como uma resposta direta ao reconhecimento da evolução que a relação entre o animal e o proprietário tem sofrido ao longo dos últimos anos (OGILVIE, 2003).
A importância das cirurgias paliativas tem aumentado devido ao crescimento da incidência na rotina da medicina veterinária. Essa terapia busca gerar um alívio nos efeitos causados pela formação, como: dor, liberação/ secreção de hormônios ou enzimas, prevenir hemorragias e obstrução de órgãos.
Os avanços na área de saúde veterinária, aliados ao desenvolvimento de centros de tratamento avançado, resultaram na capacidade de tratar, cada vez melhor, os animais de companhia. O desenvolvimento da área dos cuidados paliativos pressupõe o reconhecimento de que cada doente pode ser ajudado, independentemente de problemas financeiros, do tempo e do diagnóstico subjacente, recorrendo a terapias de suporte, tratamento curativo ou terapia paliativa (OGILVIE, 2003).
Esse atendimento humanizado busca trazer mais conforto para o animal e minimizar o sofrimento ocasionado pela neoformação. Além disso, prepara o tutor para a morte e para o luto, não só trazendo benefícios para vida do animal, mas também para ele que vê o animal como um membro da família.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Beatriz Canhete Ardanuy
Graduanda em Medicina Veterinária pela Universidade Anhembi Morumbi (2021-2025); Integrante do grupo de estudos de Oncologia Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi – setor mídias; Participante ativa da parte de resgate e reabilitação da ONG Anjos de Patas; Participante ativa da ONG Sea Shepherd; Participante da ONG Mercy for Animals; Experiência em clínica médica, clínica cirúrgica e intensivista de pequenos animais.

Bruna Fernandes Zorzetti
Graduanda em Medicina Veterinária pela Universidade Anhembi Morumbi (2021 – 2025); Integrante do Grupo de estudos de Oncologia Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi – setor científico. Monitora do Centro Cirúrgico de Pequenos Animais da Universidade Anhembi Morumbi e do curso de extensão “Controle de superpopulação de cães e gatos baseada nas helter medicine (medicina de abrigos: da castração a guarda responsável – módulo cirúrgico” – 2023.3; Monitora do projeto de extensão GEONCO UAM – Campanha Outubro Rosa Pet 2023; Experiência em clínica médica, clínica cirúrgica e intensivista de pequenos animais.

Livia Biazon Dellalio
Graduanda em medicina veterinária pela Universidade Anhembi Morumbi (2022-2026); Membro do Grupo de Estudos de Oncologia Veterinária da Anhembi Morumbi no setor de mídias sociais; Organizadora da Campanha de Prevenção Contra o Câncer 2024.1 – GEONCO; Membro da SEVAM responsável pelo módulo de anestesiologia e emergência; Estágio em clínica cirúrgica de pequenos animais no Hospital Veterinário Anhembi Morumbi (abril e maio de 2023); Estágio em diagnóstico por imagem no Veros; Hospital Veterinário (agosto a dezembro de 2023); Estágio na internação do Hospital Veterinário Pães de Barros (abril de 2024); Estágio na internação do WeVets (maio de 2024).

Dra. Aline Zoppa
Graduação em Medicina Veterinária pela FMVZ – USP (1995). Residência em cirurgia no Hovet – FMVZ, USP. Mestrado em cirurgia FMVZ, USP (2002). Professora de cirurgia desde 2001. Atendimento direcionado à Oncologia desde 2008. Ministra aulas e palestras em Cursos de pós-graduação e congressos. Membro e Sub-coordenadora da supraespecialidade de Cirurgia Oncológica da Associação Brasileira de Oncologia Veterinária (ABROVET). Membro do grupo de estudos PSICONVET (Psico-oncologia veterinária). Coordenadora clínica do HOVET UAM desde 2017.