TAIS PROCEDIMENTOS SÃO UM GRANDE AVANÇO NA MEDICINA VETERINÁRIA, MAS SERÁ QUE ELES TÊM SIDO AMPLAMENTE UTILIZADOS?
Por: Samia Malas
Dr. Fábio Chagas de Resende, cirurgião do Hospital Estimma, de Campinas-SP, aponta que a videocirurgia minimamente invasiva representa uma evolução considerável na medicina veterinária nos últimos anos. “A laparoscopia para processos terapêuticos e diagnósticos permite examinar e avaliar órgãos da cavidade abdominal e cavidade torácica, além de ser possível efetuar biópsias precisas e minimamente invasivas”, destaca.
BENEFÍCIOS DA TÉCNICA
As cirurgias minimamente invasivas são procedimentos que trazem bastante melhora para os animais de estimação no pós-cirúrgico, em sua recuperação. “Isso acontece, pois a incisão é muito menor do que a feita em uma cirurgia tradicional, aberta, então conseguimos ter uma recuperação muito mais rápida e ainda temos menos riscos de ter uma complicação durante a cirurgia”, aponta Dra. Aline Machado de Zoppa, professora de cirurgia veterinária desde 2001 com ênfase em cirurgias de tecidos moles e reconstrução, subcoordenadora da supra especialidade de Cirurgia Oncológica da Associação Brasileira de Oncologia Veterinária (ABROVET) e coordenadora clínica do HOVET UAM desde 2017, de São Paulo-SP. A veterinária ainda dá um exemplo prático dos benefícios desta cirurgia: “com a laparoscopia conseguimos fazer a retirada do testículo abdominal de um animal criptorquídico com três incisões de 1 a 2 cm cada e num tempo cirúrgico menor do que 10 minutos. Além da recuperação rápida da cirurgia, tem toda a recuperação anestésica que também é melhor, e como a manipulação é menor, a técnica causa menos dor ao paciente”.
Dr. Márcio e Dr. Fábio também concordam que as vantagens do uso desta técnica são inúmeras quando comparado às técnicas cirúrgicas tradicionais e citam algumas delas: menor tempo de cirurgia, menor manipulação tecidual, menor risco de infecções, menos dor no transcirúrgico e no pós-cirúrgico, menor tempo de internação e estresse pós-operatório do paciente, maior assertividade nos casos, melhor visualização do campo operatório sem expor órgãos etc.
CIRURGIAS MAIS REALIZADAS
Segundo os entrevistados, as principais aplicações da técnica hoje são: castrações em fêmeas, animais criptoquídicos, biópcias de órgãos abdominais (como o fígado) e cirurgias de visícula biliar e de tórax. “Vê-se caminhando também em cirurgias que têm um acesso um pouco mais complicado como na remoção da próstata”, acrescenta Aline.
“Nas cirurgias de vesícula biliar os benefícios são incontestáveis para o paciente, pois o acesso a vesícula biliar na cirurgia convencional necessita de uma incisão bem grande e muita manipulação tecidual para afastar e conseguir explorar adequadamente a estrutura. Isso não acontece na videocirurgia, porque conseguimos chegar com muita qualidade visual e trabalhar exatamente onde precisamos, reduzindo muito a taxa de mortalidade e a possibilidade de intercorrências cirúrgicas. Retirada de ‘pedras’ na bexiga também, pois nos possibilita acesso total ao interior da bexiga, evitando ‘deixar para trás’ qualquer tipo de pedra”, reforça Dr. Márcio.
“Vídeocirurgias minimamente invasivas são amplamente executadas nas doenças gastrointestinais, para a realização de biópsia intestinal onde são coletadas amostras de tecidos do intestino para análise laboratorial”, reitera Dr. Fábio.
Me preocupo muito com o aprendizado do uso da técnica” diz Dra. Aline Machado de Zoppa, professora de cirurgia veterinária
OBSTÁCULOS DO MÉTODO
Um dos principais entraves para um crescimento ainda maior desta técnica na Medicina Veterinária e a sua popularização é a alta curva de aprendizado que ela exige. Dra. Aline explica que, para estar apto a realizar tais cirurgias, o médico-veterinário precisa primeiro aprender a mexer com os equipamentos e depois aprender a utilizar os equipamentos dentro do paciente. “Então o tempo de aprendizado, treinamento e preparo é muito maior do que o de uma cirurgia aberta, a tradicional. Me preocupo muito como aprendizado do uso da técnica, se não tiver o equipamento adequado e não souber aplicar a técnica adequadamente você pode causar muitos prejuízos ao seu paciente. O aprendizado e uso correto da técnica são os principais fatores complicadores. É um equipamento de elite mesmo. Além disso, é um procedimento que você precisa de uma equipe, um precisa controlar a câmera e outro as pinças, então fazer tudo sozinho é difícil, é melhor que se faça com equipe”, revela Dra. Aline, que também aponta o alto custo do equipamento como outro obstáculo. “Quanto mais delicado for o equipamento e quanto mais nitidez tiver o monitor, melhor o resultado. Isso faz com que o custo destes procedimentos seja muito mais elevado do que os usados em cirurgias tradicionais, inclusive o custo para o tutor. Porém, as pessoas que têm mais condições financeiras acabam solicitando que se faça este tipo de procedimento, pois sabem da qualidade e da rapidez da recuperação”, destaca Dra. Aline.
Para Dr. Márcio, um dos principais entraves para a popularização destas técnicas também é o alto custo dos equipamentos e conseguir valorizar adequadamente a cirurgia, pois dependendo da região do país, isso pode ser desafiador. “Outro obstáculo importante é que alguns profissionais acabam degradando a técnica de videocirurgia, se aventurando nela sem fazer uma pós-graduação ou um curso intensivo na área, acarretando insucesso”, acrescenta.
Dr. Fábio concorda que o maior desafio que a medicina veterinária encontra para uma ampliação dos procedimentos utilizando as técnicas minimamente invasivas são os altos custos dos equipamentos utilizados. “Em decorrência aos valores elevados, ficamos restritos ao número de profissionais especializados e capacitados nesse segmento e que disponham de todos os equipamentos necessários para a excelência nos procedimentos”, finaliza.