Alérgenos ambientais e imunoterapia alérgeno específica (ASIT)

Por Dra. Laís Gomes Fornazier

A Imunoterapia alérgeno específica (ASIT) é o único tratamento com o potencial de diminuir os sintomas da alergia e de alterar o curso da doença. A ASIT age na causa da doença, enquanto os outros tratamentos tratam os sintomas, podemos conseguir induzir tolerância clínica e imunológica com a ASIT. 

Vamos começar falando resumidamente sobre a dermatite atópica que é a doença alvo do tratamento da ASIT. A Dermatite atópica é uma doença desafiadora e complexa, deve ser tratada de forma individualizada e multifatorial visto que cada paciente tem sua particularidade na resposta as terapias, sintomas diferenciados e necessidades particulares. É uma doença alérgica inflamatória e pruriginosa resultante do processo de hipersensibilidade tipo l, envolvendo células inflamatórias e interleucinas formando IgE. A doença tem uma etiologia multifatorial como combinações de fatores genéticos, teoria da hipótese da higiene (na primeira infância estavam restritos a áreas domiciliares e pouco expostos a uma variedade grande de alérgenos) e também uma falha na barreira cutânea.

A Dermatite atópica tem altíssima incidência em cães. Seu diagnóstico é clinico baseado no histórico completo, sinais clínicos, e exclusão de outras doenças que podem cursar de maneira parecida com a dermatite atópica. O processo imunológico e inflamatório que desencadeia os sinais clínicos da doença está associado a produção de imunoglobulina (IgE) contra alérgenos ambientais que serão descritos os principais adiante.

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Os principais alérgenos ambientais são: ácaros domiciliares e de estocagem (ou de produtos de armazenamento), pólen de gramíneas, pólen de arvores, pólen de ervas daninhas, mofos ambientais e baratas (com menos relevância na medicina veterinária).

Os Ácaros da poeira doméstica (família dermatophagoides) são:  Dermatophagoides farinae, o Dermatophagoides pteronyssinus e Blomia tropicalis, essa última é um ácaro de estocagem, porém por conta do clima no Brasil, hoje é considerada um ácaro domiciliar. O Dermatophagoides farinae se alimentam de bactérias e fungos e o Dermatophagoides pteronyssinus da descamação humana. Um ambiente de 70% a 80% de umidade e temperatura ambiente de 25 a 30 graus é ideal para o seu desenvolvimento. Existe ácaros em todos ambientes, casas e apartamentos.

Os ácaros de estocagem são: Acarus siro, Tyrophagus putrescentiae, Lepidoglyphus destructor, Glycyphagus domesticus e Blomia tropicalis (considerada acaro domiciliar). São ácaros de armazenamento, existem mais em área de estocagem como zonas rurais, porém podem estar onde é armazenado ração, inclusive dentro de casa, ração aberta, mal acondicionada, com umidade e temperatura ideal será contaminada por ácaros de estocagem.  São encontrados em feno, palha, grãos e ração seca.

As principais gramíneas no Brasil são: Cynodon Dactylon, Phleum pratense, Dactylis sp., lolium sp. e Paspalum notatum. As espécies de gramíneas variam em relação as diferenças climáticas, sazonais e regionais. Cães são alérgicos a gramíneas polinizadas pelo vento (que tem o pólen disperso no ar), as polinizadas por insetos não causam alergia em animais e humanos. O pólen das gramíneas pode entrar na casa ou apartamento e ficam suspensos no ar, não precisa ter contato direto com a gramínea para a reação alérgica acontecer. Os principais polens de árvores são: Platanus acerifolia e Pinus pinaster. Os pólens de ervas daninhas são: Ambrosia sp. e Artemisia.

As principais espécies de mofos ambientais são: Alternaria sp., Aspergillus sp., Penicillium sp. e Cladosporium sp. Quando é necessário colocar no frasco de imunoterapia, não o colocamos juntos no mesmo frasco com ácaros e gramíneas pois ele pode inativar os outros alérgenos.

Foto arquivo pessoal – Teste alérgico intradérmico

Os testes utilizados para fazer a formulação da imunoterapia são os testes alérgicos cutâneos que são: o teste intradérmico e o prick test, que analisam a IgE direto na pele e também temos o teste o sorológico que analisa a IgE na corrente sanguínea. Nos testes cutâneos aplicamos os extratos dos principais alérgenos de ácaros, gramíneas e mofos por via intradérmica (no caso do teste intradérmico) ou colocando uma gota do extrato na pele e a perfurando para que o alérgeno entre na derme (no caso do prick test). 

Observamos nos testes positivos pápulas enduradas e eritematosas. É indicado com mais frequência os testes cutâneos para formulação da imunoterapia pelo motivo de analisar a IgE direto na pele, porem também podemos usar o sorológico e também a combinação dos dois testes para formulação da Imunoterapia. É indicado fazer os testes com pelo menos 8 meses de evolução da dermatite atópica.

A interpretação dos resultados positivos e negativos dos teste acima devem ser analisadas pelo veterinário especialista no assunto, existem reações cruzadas e outras particularidades que somente esse profissional saberá interpretar da maneira correta para formular o melhor tratamento da ASIT para aquele paciente e consequentemente tendo melhores resultados. A ASIT só pode ser prescrita atravez de resultados positivos do teste alérgico realizado previamente. 

A ASIT já é realizada há 50 anos na medicina veterinaria e a muito mais tempo na medicina humana. A Eficácia e taxa de sucesso da ASIT é em trono de 70%. Durante o tratamento da ASIT continuamos usando o tratamento farmacológico em associação podendo no futuro reduzir doses ou retirar medicações. As respostas consideradas como sucesso da ASIT são: espaçamentos de crises alérgicas, redução de medicações ou até retirada de medicações proativas realizadas para controle da doença.

A ASIT é a pratica de administrar quantidades maiores (gradualmente) de um extrato alergênico do que ele encontra no ambiente em um indivíduo alérgico á aquele alérgeno com o objetivo de induzir uma tolerancia duradoura a esses alergenos. A aplicacao da ASIT pode ser feita por aplicação subcutânea, oral ou intralinfática. No primeiro mês de tratamento temos a fase de indução que consiste em achar a dose ideal e posteriormente temos a fase de manutenção. 

A resposta imunológica da ASIT ocorre por: dessensibilização de mastócito e basófilos, indução de celular reguladoras específicas (células naturais), diminuição de mastócitos e eosinófilos nos tecidos afetados e mudança na resposta humoral, aumentando anticorpo bloqueador IgG4.

Nesse artigo fiz um breve resumo sobre alérgenos ambientais e a imunoterapia (ASIT). A ASIT é um tratamento que deve ser realizado por um médico veterinário especializado no assunto.  Imunoterapia não é um tratamento experimental e sim um tratamento seguro.  Indivíduos dessensibilizados com sucesso podem não precisar de outros tratamentos. O tratamento é longo e as resposta são variáveis. A ASIT pode dar uma melhor qualidade de vida para os animais com dermatite atópica. É um tratamento a longo prazo e durante o tratamento é mantido também o tratamento farmacológico da dermatite atópica.  Algumas condições da doença respondem melhores que outras. Melhores respostas tendem a ser entre 2 a 3 anos de tratamento com ASIT e também de pacientes que realizam o acompanhamento dermatológico (reavaliações) com o especialista na frequência recomendada. A imunoterapia alérgeno específica é o único tratamento etiológico da doença.

Dra. Laís Gomes Fornazier

CRMV: 36559
Pós-graduação em Dermatologia veterinária – Qualittas; Aprimoramento em clínica e cirurgia de pequenos animais - Moura Lacerda, Ribeirão Preto; Diversos cursos de aprimoramento em Dermatologia e Alergologia; Local de atendimento em Ribeirao Preto, SP. Endereço: Rui Barbosa, 1782. Telefone para contato: 16 991865482

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